quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Era uma vez: Uma varanda de ver mundo (7)

Parque de Monsanto - Lisboa
Depois de ver o pequeno rouxinol desaparecer sobre o parque, João telefonou aos amigos e contou-lhes o encontro com o pequeno pássaro, omitindo o que se referia a Inês. Nenhum deles conseguiu dormir bem naquela noite, tal a agitação em que ficaram.
No dia seguinte, na escola, aproveitaram todos os intervalos para discutir o assunto, pondo todas as hipóteses, até a possibilidade de João estar a ter uma alucinação. Mas, ao mesmo tempo, desejando muito que tudo fosse verdade. Imaginavam como seria fantástico se o pequeno rouxinol falasse também com eles! Assim que terminaram as aulas da manhã, engoliram o almoço a correr e deram um salto a casa do João.
Fecharam-se no quarto e cochicharam durante toda a hora de almoço, controlando o entusiasmo, para ninguém os ouvir. Decidiram pesquisar tudo o que fosse revistas e jornais de notícias, revistas científicas e sites de Internet, para ver se haveria notícia de fenómenos deste género. O Tiago sugeriu que se registasse tudo desde o início, para documentar bem todo o fenómeno de modo a poderem prová-lo, caso fosse necessário. Pegou no seu caderno de “anotação de ocorrências”, como lhe chamava e registou, com a ajuda dos outros, a data e as horas em que o rouxinol começara a aparecer na varanda do João; o dia e a hora em que falara, da primeira e da segunda vez, bem como tudo o que dissera. O Hugo aconselhou o João a fazer uso do seu jeito para a escrita e descrever tudo ao pormenor, como um relatório científico mas sem deixar de fora a emoção do acontecimento. A Inês só sabia dizer: “Quem me dera estar aqui e ouvir também o que ele dizia!” E o João, no meio do entusiasmo dos colegas, ainda tinha medo de estar a ver coisas e a contar uma história que, embora lhe parecesse verdadeira, pudesse ser apenas fruto da sua mente que, farta de estar só e inactiva, o tivesse levado a imaginar uma aventura que viesse a dar em nada. Decidiu desabafar:
“Sabem? Tenho de vos confessar uma coisa. Tenho medo de que tudo não passe de uma partida da minha imaginação. E se estou a ficar passado, se vejo coisas que não existem? Tenho medo!”
Todos se calaram e olharam para o amigo. Foi o Tiago quem respondeu, no seu tom sério e convincente:
“Não te preocupes. Não acredito que seja isso. Tu estás a ser acompanhado pelos médicos e pelo psicólogo. Estás lúcido em tudo e não existem episódios de alucinações no teu passado nem na tua família. Por isso, não deve ser isso. Mas tiraremos a limpo e se, por acaso, for uma alucinação não há problema nenhum – há terapias para tudo e tu ficarás bem e, no fim, terás uma óptima história para contar e, nós, uma aventura para recordar.”
“É pá, és sempre tão organizado e científico no que dizes, Tiago! Cá por mim, eu acredito que um pássaro pode falar. Não com toda a gente, mas com uma pessoa como o João, pode!” E, voltando-se para o amigo, Inês pegou-lhe nas mãos e foi peremptória: “Não te preocupes. Se ouviste o passarinho falar é porque ele falou! Outra coisa será saber se outras pessoas conseguem ouvi-lo. Provavelmente é preciso ser uma pessoa especial, como tu, para entender o que diz um ser lindo, de outra espécie, como um rouxinol. Não te preocupes, ouviste!?”
O intervalo de almoço esgotou-se rapidamente e os três tiveram de voltar à escola. João também se preparou para estudar as lições. Apesar de ainda não ser aconselhável ir às aulas, ele acompanhava as matérias através de lições à distância e do apoio de dois professores que, semanalmente, se deslocavam a sua casa para lhe tirar as dúvidas e orientar o seu trabalho de aprendizagem autónoma. Assim, não ficaria atrasado e poderia terminar o ensino básico ao mesmo tempo que os seus amigos.
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(Continua)
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3 comentários:

  1. Anónimo12.1.11

    Tenho acompanhado as suas histórias e gostei das mais concisas. Esta é mais emocionante porque não sei quando acaba e estou sempre à espera que continue. Hoje tive sorte pois encontrei a continuação de dois dias seguidos. Se pudesse escrever todos os dias seria bom, mas compreendo que deve ter mais que fazer. É um tema que me interessa porque sempre gostei de pessoas diferentes e com capacidades fora do comum, como a de ser feliz apesar de tudo. Continue. Gosto muito da sua escrita. Bela

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  2. Anónimo12.1.11

    Hello, dear "Sonhos". I wish I could understand all your words. I'l keep reading. It's good for my portuguese training.
    The fotos of serra da estrela are beautifull and thanks for the portuguese musique.
    Kissis. John

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  3. Anónimo13.1.11

    Escrita fresca e história bonita a prometer sonhos de liberdade. Gosto e fico à espera da continuação.

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