terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Post.it: A criança que fomos

Todas as manhãs ainda o sol mal se debruçou sobre o planeta, já vejo aquelas crianças de colo, que as mães transportam com passo acelerado. Têm o olhar adormecido mas mesmo assim ainda esboçam um sorriso para o vizinho de viagem num metro apinhado de gente. Têm o rosto afogueado de tanta roupa, está frio neste  topo de inverno. Vão para o infantário uma rotina a que já se habituaram desde muito cedo. É para lá que vão todos os dias sem excepção, faça frio ou calor. Ainda bem que existe o fim-de-semana para se aconchegarem na cama quentinha e sonharem que se esqueceram de os obrigar a levantar. Passados uns anitos entram na escola, depois outra escola e noutra ainda, e quem sabe em quantas mais. Dizem que é bom aprender, mas a verdade é que se esqueceram de os avisar que já não podem brincar porque só há tempo para os tpc(s).
Quando a escola termina, arrumam-se os livros no armário. Sentem-se livres para fazer o que lhes apetecer, para gerir o seu tempo e ocupá-lo apenas nas coisas que gostam. Ou talvez não. Chegou a altura de arranjar emprego e voltar a acordar cedo, entrar no metro apinhado de gente e carregar aquele bebé que agora é o seu.
Quando é que podemos brincar? pergunta em nós  a criança que fomos.

13 comentários:

  1. Anónimo25.1.11

    É mesmo, tem-se uma vida tão ocupada que não temos tempo para dar largas à criança que fomos e que de certa maneira ainda somos porque ela está escondida em nós. De vez em quando espreita. Quando fazemos uma tolice, quando nos rimos com os amigos, quando brincamos com os filhos. Bjs Augusta

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  2. Anónimo25.1.11

    É um pouco assim, talvez não totalmente. Não são só os tpc(s) que agora até são feitos na escola, mas são sobretudo as actividade extracurriculares e o tempo que passam na escola. Um tempo de qualidade, não nego, mas que lhes deixa muito pouco tempo para serem crianças. Beijocas

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  3. Anónimo25.1.11

    A sociedade mudou muito quando as mulheres começaram a trabalhar. As crianças foram forçadas a sair de casa muito cedo, com frio ou calor. Criou-se uma relação parental diferente. Os pais já não têm tempo e compensam com prendas ou sendo demasiado permissíveis. Não sei que sociedade sairá destes jovens. Temos de ter esperança que os valores estejam nos genes, já que não há tempo para educar. Bjs José

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  4. Anónimo25.1.11

    Tens toda a razão a vida das crianças está cada vez mais difícil, não admira que sejam tão stressadas e façam birras constantes. Levantam-se tão cedo e quando entram nessa rotina já não saem dela. Bjs Luís

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  5. Anónimo25.1.11

    Pois é mesmo, depois de se entrar na escolinha já não há tempo para se ser criança. Talvez por isso se seja criança cada vez mais tarde.Bjs Amália

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  6. Anónimo25.1.11

    Pensando bem é verdade, já quase não há tempo para se ser criança.Bjs A.

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  7. Anónimo25.1.11

    Gostei da tua análise, não podemos colocar a culpa no tpc(s) porque, na verdade são cada vez menos numerosos e tentamos que os miúdo os façam na escola com o nosso apoio. O que sinto que acontece em muitos caso é que os pais se desresponsabilizam perante a educação dos filhos e consideram que essa é uma função da escola. Contudo se temos que exercer alguma disciplina, aparece logo um paizinho discordante. Mas na maior parte do tempo não tem tempo para estar e educar o filho. A escola é que tem que lidar com esta situação e ser em muitos casos o educador e mediador de conflitos. Realmente as crianças têm cada vez menos tempo para o serem mas isso é uma mudança social que se vem acentuando que e temos de adaptar para o dia a dia. Procurando o equilíbrio para que o pouco tempo seja vivido e partilhado com qualidade por parte de pais e filhos. Obrigada, e parabéns pelo tema.

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  8. Anónimo25.1.11

    Parabéns pelo assunto. Sou mãe e interrogo-me como podem os miúdos crescer felizes com tantas obrigações e correrias logo desde pequenos. Tanto se fala contra o trabalho infantil e também sou contra. Todavia o ritmo que se imprime à vida das crianças e a quantidade de disciplinas que se lhe exigem na escola, com a inerente quantidade de trabalho, é um disparate. A quantidade de aulas por dia e por semana, muitas de 90 minutos, é outro disparate. Temos de preparar o futuro das nossas crianças mas assim é demais. Gostei da forma como abordou este assunto sério, de forma leve e bonita.

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  9. Anónimo25.1.11

    Esta é uma análise muito pertinente. As crianças desde logo entram numa rotina de stress. Talvez por isso sejam tão agitados e impacientes. Hélio

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  10. Anónimo25.1.11

    Talvez esta seja uma das justificações para as características das crianças hoje em dia. Nunca como agora se fala de hiperactividade. Leonor

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  11. Anónimo25.1.11

    Por vezes penso tudo isto. Na vida que as crianças levam e na vida que nós tínhamos. Os contrastes são muito evidentes. Nós vivíamos no centro dos adultos, hoje são os adultos que vivem no centro da vida das crianças. Não sei há tempo para se ser criança, mas sinto cada vez mais que não tenho tempo para ser adulta. Vivo numa roda viva com as agenda social dos meus filhos, que é muito maior do que a minha.

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  12. Anónimo25.1.11

    Pois é verdade, quando conseguimos ter tempo, eis que o tempo de sermos crianças já passou. Fica em nós guardado a criança que “quase” fomos. Talvez um dia a reencontremos. Bjs Adélia

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  13. Anónimo26.1.11

    Gostei particularmente do teu texto sobre a criança que fomos. Há em todos nós incertezas, inconstâncias, receios fundados ou não, nesse momentos temos vontade de voltar a ser crianças, de ter alguém que resolva a nossa vida por nós. Isto acontece muitas vezes porque: Primeiro é difícil crescer. Sobretudo quando esse crescimento foi marcado por obstáculos. Em segundo lugar porque em muitos casos não tivemos o apoio suficiente para o fazer de forma segura e tranquila. As crianças entram numa vida social muito activa com cada vez menor idade. Os pais que eram o seu modelo e estabilidade são substituídos pelos amigos. Querem parecer-se com eles e ter tudo o que eles têm. Entra-se desde logo na competição do “possuir” desvalorizando os valores formadores duma personalidade equilibrada. Cabe aos pais compensar esta lacuna e criar laços parentais mais fortes. Passar mais tempo com os filhos. Para que esses laços de confiança perdurem no seu futuro.Bjs Sandra B.

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