quinta-feira, 30 de junho de 2011

Post.it: Não a viram

Ela estava ali, naquele momento, naquela hora. No instante em que tudo se revela. Em que a vida se encontra com a sua rival. O final previamente anunciado, continuamente denunciado, tinha que ser, já estava escrito que esse seria o seu destino. Mas o destino rebela-se inconformado contra o encontro ou desencontro, do princípio ou do fim. Quem sabe o começo, o verdadeiro começo, repetem as almas que se consolam com tal hipótese. Mas agora perante o vazio que fica, que importam as teorias, as crenças, era cedo, demasiado cedo. Ela madrugou, tinha uma missão, salvar da dor o quanto antes, sem adiamentos, sem súplicas. Salvar da dor repetem os que buscam uma explicação lógica para o ilógico do sucedido. Salvar da dor, de quem parte, de quem fica, rebuscando um ténue consolo, tentando acreditar que a expiração não dói. Mas dói, dói sempre. A perda, a ausência, a vida roubada.
Ela estava ali, não a viram, estavam cegos de juventude, de sonhos e de esperança. Ela estava ali quando os horizontes se encontraram, quando as linhas se tocaram e numa só se tornaram. 

11 comentários:

  1. Anónimo30.6.11

    A beleza da escrita atenua a tristeza do tema, da lembrança, da homenagem. Ela veio, levou consigo a juventude e os sonhos ainda por sonhar.

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  2. Anónimo30.6.11

    Não se anuncia, não diz o seu nome, murmuramos a sua existência com temor. Ela vem, mesmo quando não a vemos, quando não a esperamos, ela está algures ali.

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  3. Anónimo30.6.11

    Gostei da subtileza das palavras, não lhe dando nome, sabemos no entanto do que se fala. Mário

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  4. Anónimo30.6.11

    É verdade que virá, não sabemos quando nem onde a encontraremos. Vivemos com esse estigma que nos liberta ou limita. Vivemos a esperar ou a fugir. Vem por vezes demasiado cedo e apanha-nos de surpresa. Outras vezes demora, arrasta-se em nós. Amargura-nos que elas nos espere que nos chame mais tarde ou mais cedo. Que fazer, perguntam-me tantas vezes. Viver como se ela não existisse respondo aos receosos. Viver como se cada dia fosse o último indico aos imprudentes. Não há respostas, cada um deve apenas viver a sua vida. Sandra B.

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  5. Anónimo30.6.11

    Sabemos tanto sobre ela, mas afinal nada sabemos. Esperamos apenas que venha tarde, o mais tarde possível. Beijocas C.

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  6. Anónimo30.6.11

    Conheço as teorias, repito-as para os outros mas quando ela chega perto de mim e rouba-me as pessoas que mais gosto, não encontro conforto no destino, ou no final da dor. Porque a dor fica em mim. Bjs, Amália

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  7. Anónimo30.6.11

    É sempre triste ver jovens partirem sem terem vivido tudo aquilo que deviam viver. Mesmo que digam que já viveram o suficiente para marcar as nossas vidas. Nunca é suficiente. Tocou-me muito este texto, senti-o na recordação de todos os que já partiram e dos que hão-de partir um dia. Ela tem a sua missão, levar a vida, nós temos a nossa mantê-la por cá. Um beijo grande. Adelaide

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  8. Anónimo30.6.11

    Gosto das suas palavras, sempre tão serenas, mesmo quando o assunto é forte e magoa. Tem a delicadeza dum traço ténue mas firme na pintura da vida. Quase imagino os tons, quase imagino as sensações. Uma abordagem muito agradável para um tema que nos desagrada sempre. Um abraço, Antero

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  9. Anónimo30.6.11

    Gostei de ler esta homenagem sobre vida roubada. Esse encontro ou desencontro. Sobretudo neste momento em que um jovem actor/cantor desaparece assim, é triste sobretudo porque era muito jovem. Bj, José

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  10. Anónimo30.6.11

    É difícil aceitar que ela nos roube o que temos de melhor, aqueles que amamos. Mesmo que já não sejam jovens para nós é sempre demasiado cedo.

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  11. Anónimo30.6.11

    Gostei da subtileza das palavras, o não nomear, como se não lhe quisesse dar uma existência. Como se não a quisesse receber, mesmo sabendo que existe para além da nossa vontade.

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