segunda-feira, 27 de junho de 2011

Era uma vez: No reino mágico das fadas (47)

Ao longo dos cem anos que ali passara, aquela janela transformara-se no seu lugar preferido. Na sua primeira noite de exílio, ficara ali a olhar a escuridão do céu, por momentos iluminada pela chuva de fogo dos cometas que de mil em mil anos ocorre nos céus do reino mágico. Lembrava-se de ter pensado em cem anos como uma eternidade e de ter sentido medo de não conseguir cumprir o que prometera – permanecer isolada, em silêncio e reflexão durante um século, como forma de se libertar da culpa que sentia por toda a situação que criara com a sua desobediência e irresponsabilidade. Além disso, comprometera-se a não recorrer a nenhuma espécie de magia conhecida. Apenas poderia recorrer à magia se criasse alguma nova fórmula mágica que fosse útil e proporcionasse algo de bom a todo o reino. Este compromisso fora tomado por sua livre iniciativa e dera origem a uma lei que fora implementada em todo o reino: “toda a magia e qualquer poder mágico, assim como todos os progressos científicos e tecnológicos, serão utilizados apenas e só se constituírem um contributo para o bem comum.”
Recordava vivamente a promessa que fizera a si própria: “aconteça o que acontecer, cumprirei a minha palavra!”
Agora, cem anos volvidos, sentia-se vitoriosa por ter conseguido cumprir a sua própria determinação. Não fora fácil, sobretudo nos primeiros anos. Muitas vezes sentira a tentação de ceder, de abrir a porta e partir. Mas conseguira manter-se fiel ao seu propósito. Nesses momentos de fraqueza, empenhava-se ainda mais no que determinara para si própria. Assim, aproveitara o tempo para estudar, para fortalecer a vontade e para desenvolver a magia que permitia à mente viajar e, assim, adquirir conhecimento e comunicar. Orgulhava-se da aplicação que estava a ser dada a essa magia em todo o reino. Fora através dela e das visitas regulares que recebera que pudera acompanhar toda a evolução que se operara no reino desde a longínqua Noite da Reunião, em que os dois reinos se haviam tornado num só.
Marbel permaneceu sentada e quieta no parapeito da janela por várias horas, meditando em tudo o que a conduzira àquele momento. O céu daquela última noite tornara-se muito escuro. Marbel desejou que houvesse fogo de cometas, como da primeira vez que ali passara a noite. Mas só as estrelas ponteavam a imensidão escura e funda do firmamento. A princesa fixou essa imensidão e deixou que a sua mente viajasse nela e dela colhesse a sabedoria do infinito. E ninguém presenciou a transformação do seu corpo e a luz que se acendeu no seu rosto.
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Continua
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No reino mágico das fadas (48)
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