quarta-feira, 22 de junho de 2011

Era uma vez: No reino mágico das fadas (45)

Marbel olhou mais uma vez os arabescos que desenhara na porta grande e escura, gasta pelo tempo e pela espera. Em cada dia gravara uma letra, uma palavra, uma ideia que perfaziam agora mais de três mil anotações dos acontecimentos que acabara de recordar. Assim conseguira vencer a vontade de abrir a porta e fugir ao castigo. A fechadura nunca fora trancada e a liberdade estivera sempre ao seu alcance. Mas, desta vez, Marbel fizera questão de não desobedecer, de merecer a confiança que, apesar de tudo, a mãe e todo o reino haviam depositado nela.
Enchera os mais de três mil dias com reflexão, estudo e observação de tudo o que se fora passando no reino unido das fadas e seres brilhantes. Desenvolvera a magia de fazer viajar a mente, de observar e registar tudo o que presenciava e experimentava nessas viagens e, quando descansava diante da larga janela que se abria sobre a magnífica paisagem, cheia de verdes e sinais de vida a nascer, a florescer e a renovar-se, sentia a tranquilidade de quem soubera aprender com os erros e crescera para um futuro em que poderia provar a si própria e aos outros que mudara e deixara, definitivamente, de viver centrada em si própria e na satisfação das suas vontades.
Começou a ouvir o som dos passos da mãe a aproximar-se do último lanço de escadas que antecedia o patamar de acesso ao aposento onde se encontrava. A porta esbatia os ruídos do exterior, mas soube que a mãe não vinha só e reconheceu os passos de Ornix, mais fortes e firmes. Habituara-se a vê-lo sempre na companhia da mãe, como se ambos fossem parte de uma unidade que não poderia existir sem a outra. De início estranhara, mas depois de ouvir da boca de ambos como se havia dado o seu primeiro encontro, como um único olhar os unira por uma recordação de séculos que levara ao acordo de paz entre os dois reinos, compreendera que talvez algum poder superior os destinara e unira. Aceitou e aprendeu a respeitar e a amar Ornix.
Sentiu os passos do outro lado da porta e, mesmo antes da mãe bater, abriu-a e não resistiu ao impulso de a abraçar. A mãe correspondeu. Ornix observava-as sorrindo, como sempre fazia diante desta cena. As manifestações de afecto não faziam parte dos hábitos e costumes dos seres brilhantes. Porém, compreendia-os cada vez melhor e, às vezes, apetecia-lhe também abraçar Marbel. De início tivera um certo desprezo por ela devido ao seu comportamento irresponsável. Mas, com o passar do tempo fora aprendendo a apreciá-la e a amá-la, sobretudo devido à atitude da princesa, que soubera respeitar o acordo estabelecido sobre as consequências desse acto irreflectido que criara tamanho perigo para os dois reinos, mas que também permitira a sua união.
Depois do abraço e dos cumprimentos habituais, sentaram-se os três, cada um no seu cadeirão, no recanto mais confortável da sala.
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Continua
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No reino mágico das fadas (1)
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