No céu límpido e escuro, apenas se via o reflexo incandescente dos seres de fogo. Um murmúrio de palavras segredadas e quase cantadas percorreu o ar e chegou às duas margens do lago. Era como uma canção cantada em muitas vozes, que se alternavam e pareciam fazer perguntas e dar respostas. O fogo reflectido no céu mudava de cambiantes ao ritmo do diálogo cantado. Ninguém compreendia o significado das palavras que elevavam do largo e se cruzavam no ar espalhando-se melodiosamente em todas as direcções, mas todos sentiam o calor profundo que emanavam e todos adivinhavam o segredo que delas se desprendia, num escoar de pura alegria, como se finalmente tivesse encontrado o caminho de uma libertação por tantos séculos ansiada.
Tudo ficou suspenso do que se passava no largo, como se mais nada existisse, como se tudo tivesse o seu início naquele ponto de luz e fogo, no meio da escuridão do lago, que se reflectia no céu, irradiando luz e melodia, enchendo o ar, o espaço e os corações de algo tão desconhecido e tão novo que ninguém ousava olhar noutra direcção ou ouvir outras palavras ou pronunciar outro som.
Ninguém soube ao certo quanto tempo se passou até que a cúpula de fogo começou a abrir-se. Primeiro um pequeno ponto de onde se projectou uma luz intensa que pareceu rasgar o céu até ao infinito. Depois, um desabrochar de luminosidade e cor, como uma flor que, lentamente se abre para a vida e a saúda em todo o seu esplendor. Os seres de fogo foram-se diluindo nas pétalas de luz que se abriram completamente e encheram o chão do largo. No centro, os caminhantes da ponte levitavam em círculo, de braços estendidos e mães unidas abraçados por um anel de energia que assumia todos os cambiantes de milhares de cores e irradiava em todas as direcções os sentimentos dos que ele unia e que lhe davam existência.
A pouco e pouco, o círculo foi-se alargando e deixando ver aqueles que o formavam. Para grande admiração de todos, não se observavam as habituais diferenças entre seres brilhantes e fadas e magos. Todos eram diferentes entre si, mas semelhantes nos traços essenciais do corpo e do rosto.
Foi então que todos compreenderam o segredo da canção cantada em mil vozes, a alegria de libertação que se desprendia dela, o significado das palavras que se tinham elevado do largo luminoso, espelhando a sua melodia num significado que só agora compreendiam.
Marbel recordava aquela noite distante. Lembrava-se de todos os pormenores e de todos os acontecimentos que a ela haviam conduzido. Olhou em seu redor e observou as paredes ancestrais de pedras corroídas pelo tempo que, durante cem anos, tinham sido a sua casa e o seu longo castigo. Estava consciente de que, ao sair dali, encontraria uma nova realidade, nascida daquela noite longínqua e, ao mesmo tempo tão próxima, em que a sombra, mãe de todas as feiticeiras malévolas, fora definitivamente derrotada e a luz vencera e unira o reino mágico das fadas e o povo dos seres brilhantes da ilha, não só pela ponte de água sólida mas também pela confiança dos corações.
Durante o seu exílio, no primeiro castelo do reino, apenas sua mãe, Ornix e os jovens magos que se haviam arriscado para a salvar a visitavam regularmente, colocando-a a par de tudo o que se passava, através de novas e poderosas formas de magia que permitiam ver e ouvir tudo sem sair do seu aposento feito prisão. Custava-lhe pensar que havia sido privada de presenciar e experimentar tudo isso e todas as experiências e vivências do novo reino unido em que o lago das mil cores já não era obstáculo mas ponte e caminho.
Faltavam poucos dias para sair dali. Por isso, naquela manhã, aguardava mais ansiosamente a visita da rainha Amada. Estava na hora. Pela janela alta viu-a chegar e dirigiu-se à porta de madeira pesada, onde fora gravando todos os dias da sua solidão.
………….
ContinuaTudo ficou suspenso do que se passava no largo, como se mais nada existisse, como se tudo tivesse o seu início naquele ponto de luz e fogo, no meio da escuridão do lago, que se reflectia no céu, irradiando luz e melodia, enchendo o ar, o espaço e os corações de algo tão desconhecido e tão novo que ninguém ousava olhar noutra direcção ou ouvir outras palavras ou pronunciar outro som.
Ninguém soube ao certo quanto tempo se passou até que a cúpula de fogo começou a abrir-se. Primeiro um pequeno ponto de onde se projectou uma luz intensa que pareceu rasgar o céu até ao infinito. Depois, um desabrochar de luminosidade e cor, como uma flor que, lentamente se abre para a vida e a saúda em todo o seu esplendor. Os seres de fogo foram-se diluindo nas pétalas de luz que se abriram completamente e encheram o chão do largo. No centro, os caminhantes da ponte levitavam em círculo, de braços estendidos e mães unidas abraçados por um anel de energia que assumia todos os cambiantes de milhares de cores e irradiava em todas as direcções os sentimentos dos que ele unia e que lhe davam existência.
A pouco e pouco, o círculo foi-se alargando e deixando ver aqueles que o formavam. Para grande admiração de todos, não se observavam as habituais diferenças entre seres brilhantes e fadas e magos. Todos eram diferentes entre si, mas semelhantes nos traços essenciais do corpo e do rosto.
Foi então que todos compreenderam o segredo da canção cantada em mil vozes, a alegria de libertação que se desprendia dela, o significado das palavras que se tinham elevado do largo luminoso, espelhando a sua melodia num significado que só agora compreendiam.
Marbel recordava aquela noite distante. Lembrava-se de todos os pormenores e de todos os acontecimentos que a ela haviam conduzido. Olhou em seu redor e observou as paredes ancestrais de pedras corroídas pelo tempo que, durante cem anos, tinham sido a sua casa e o seu longo castigo. Estava consciente de que, ao sair dali, encontraria uma nova realidade, nascida daquela noite longínqua e, ao mesmo tempo tão próxima, em que a sombra, mãe de todas as feiticeiras malévolas, fora definitivamente derrotada e a luz vencera e unira o reino mágico das fadas e o povo dos seres brilhantes da ilha, não só pela ponte de água sólida mas também pela confiança dos corações.
Durante o seu exílio, no primeiro castelo do reino, apenas sua mãe, Ornix e os jovens magos que se haviam arriscado para a salvar a visitavam regularmente, colocando-a a par de tudo o que se passava, através de novas e poderosas formas de magia que permitiam ver e ouvir tudo sem sair do seu aposento feito prisão. Custava-lhe pensar que havia sido privada de presenciar e experimentar tudo isso e todas as experiências e vivências do novo reino unido em que o lago das mil cores já não era obstáculo mas ponte e caminho.
Faltavam poucos dias para sair dali. Por isso, naquela manhã, aguardava mais ansiosamente a visita da rainha Amada. Estava na hora. Pela janela alta viu-a chegar e dirigiu-se à porta de madeira pesada, onde fora gravando todos os dias da sua solidão.
………….
……………
No reino mágico das fadas (1)
http://posdequererbem.blogspot.com/2011/01/no-reino-magico-das-fadas-1.html
Sem comentários:
Enviar um comentário