terça-feira, 21 de junho de 2011

Post.it: Alma plana

Plena de voo, de horizontes infinitos.  Os pulmões ébrios de azul. Azul céu, azul mar. Asas que rasgam os limites, que se estendem para além deles. Asas que batem num desespero de chegar a um lugar a que possa chamar lar, a que possa chamar de seu. Aquela porta aberta para receber o cansaço duma vida em busca desse alguém. As forças abandonam-lhe o ser. Uma certeza começa a surgir, nunca chegará à meta, nunca cumprirá a sua missão. De repente um sopro de vento ergue-lhe as asas, devolve-lhe o ânimo. As nuvens afastam-se do seu caminho para lhe facilitar o percurso. O sol desvia os seus raios ardentes para tornar mais fresca a jornada. Deixa-se planar, deixa-se embalar, deixa-se amar. Reflecte, deixou de sonhar, deixou de querer. Sem direcção definida, sabe que vai no caminho certo depois de ter conhecido tantos desacertados. Chegará, sabe que sim. Recorda, um tempo em que subia tão alto que ficava quase sem fôlego para prosseguir a rota. Momentos em que o seu voo era orgulhosamente o mais elegante. Nada temia, cada obstáculo não desmotivava, antes constitua um desafio. Foram muitas gotas de mar, de chuva e de um chorar copioso que de vez em quando lhe inundava a alma. Porque a alma também chora quando magoada, quando perdida no seu voo solitário. Concluí que a meta estava ali, sempre estivera, apenas a adiara em busca de ilusões num voo de Icaro. Chegara, estavam à sua espera. Porque demorara tanto, questionava a duna que se formara para lhe dar abrigo e conforto. Fora uma pergunta que nada exigia, um questionar que apenas indicava carinho e receptividade. Não importava a delonga, não importava o caminho mas a chegada. Quando só o cansaço pode valorizar o descanso, e a dor reconhecer o amor.

8 comentários:

  1. Anónimo21.6.11

    Um post.it que nos serena a alma. É bom encontrar um lar, um lugar onde nos sentimos bem, onde nos recebem de coração aberto. Bj. Rui

    ResponderEliminar
  2. Anónimo21.6.11

    Alma plana, um bonito título, imagino-a serena, esvoaçante depois de tantos voos inquietos é bom regressar e encontrar a tranquilidade de um lugar que nos reconhece e recebe com carinho.

    ResponderEliminar
  3. Anónimo21.6.11

    És uma fonte inesgotável de ideias, de imagens. És uma pessoa especial, uma amiga mais especial ainda, sensível e por isso talvez fácil de ser magoada. És esta alma plana depois dos ventos errantes pode enfim descansar na duna. Beijocas C.

    ResponderEliminar
  4. Anónimo21.6.11

    Cada vez que leio as suas mensagens penso que é bom que existam pessoas que escrevem assim e tenham a generosidade de sair da gaveta e nos oferecer estes pequenos momentos de lazer. Guardo-os todos, para os reler noutros momentos, porque já os sinto como bons amigos, de companhia, e apoio. Um grande beijo. Adelaide

    ResponderEliminar
  5. Anónimo21.6.11

    Cá estou a ler o teu post.it, e a viajar nas tuas asas, quase consigo visualizar e sentir o vento no rosto, depois de altos voos é bom saber que há sempre uma duna para aterrar e relaxar em segurança. Bjs A.

    ResponderEliminar
  6. Anónimo21.6.11

    Texto tão belo e tão profundo. Um olhar sereno que descobre os segredos da alma e do sentir e oa traduz em palavras sábias. Tantas vezes não encontramos a meta que traçamos simplesmente porque não é a nossa, porque a vida sonha para nós voos mais altos e caminhos mais longínquos. Só quando desistimos de alcançar o pouco que queríamos, nos libertamos para aceitar o muito que a vida nos quer dar.

    ResponderEliminar
  7. Anónimo21.6.11

    Menina que bonito texto. Gosto muito da forma como você escreve, é mais um que vou mandar para as minhas amigas. Continue, estou adorando ler os seus textos aqui no outro lado do oceano. Beijão, Marina

    ResponderEliminar
  8. Anónimo21.6.11

    Boa tarde, li com muito agrado alguns dos seus post.it(s). Dei há vários anos atrás um curso de escrita criativa e uma das coisas que aconselhava aos alunos era para sentirem as palavras que escreviam, as sensações internas que elas provocavam. Nem todos o conseguiam, mas quem o sentia relatava que elas podiam dar sensações de brisa, de cheiro de mar, de flores entre outras. É isso que constato na sua escrita, leveza e um grande à vontade com o sensorial. Pega num tema, interioriza-o para depois o escrever conforme o sentiu. conforme o olhou. Porque noto igualmente que deve ser muito boa observadora. Digo-lhe, não desista, invista no aprofundar da sua escrita. Parabéns e felicidades. Lucília Branco

    ResponderEliminar