sexta-feira, 8 de abril de 2011

Post.it: Inquietude

Finalmente se aquietara, as mãos repousavam sobre o colo, o olhar encontrara um lugar onde descansar. Como me cansava por vezes esta minha amiga. Irrequieta nas palavras e nos gestos. Tomar um café com ela era demasiadas vezes sinónimo de garganta escaldada. Ela que o bebia num único trago e logo de seguida erguia-se e desafiava-me a acompanhá-la num longo passeio. As conversas eram uma torrente de comentários saltitantes. Narrativas sobre assuntos diversos que começavam e acabavam antes de os apreender, antes de os racionalizar.
Finalmente se aquietara, pensava eu. Mas o silêncio crescia, começava a ficar preocupada, quase assustada com a sua imensidão.
-Estás bem? Questionei.
Olhou-me sem responder. Mergulhou-me nos olhos. Senti que me afogava nos seus. Vi neles um grito trémulo de desespero.
Depois afastou o olhar envergonhado da silenciosa confissão. “Preciso de ajuda” dizia sem o expressar oralmente.
“Estou aqui” respondi-lhe no mesmo código de silêncio.
Caminhámos devagar, lado a lado, confiantes, já não estávamos sós e havia de surgir uma solução.

11 comentários:

  1. Anónimo8.4.11

    Há sempre um solução, ou aquilo que mais se aproxima disso. Porque uma dor partilhada normalmente dói menos. Há quem diga que dói mais se não se encontrar a pessoa de confiança que se procura ou se esta confiança for traída. Bjs, Sandra B.

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  2. Anónimo8.4.11

    Gostei desta narrativa, já aprendi a entender que as tuas mensagens curtas ou longas vão sempre além do que está escrito. Por isso entendi nas entrelinhas, um apelo à amizade, ao cuidar do outro. Cada parágrafo indica um caminho que se abre e não um final. Bjs Amália

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  3. Anónimo8.4.11

    Sempre perceptível mas vai muito além do que se entende numa primeira leitura. Tocou-me porque o senti intenso, porque o senti direccionado para a sensibilidade de quem lê. Muitas vezes não é preciso falar para apoiar. Bjs A.

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  4. Anónimo8.4.11

    Quem me dera encontrar essa solução, essa amizade que transmite confiança e segurança que tudo passa. Beijos

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  5. Anónimo8.4.11

    Sempre que aqui venho tenho a expectativa do que vais escrever a seguir, e fico normalmente satisfeita por te encontrar em cada palavra que nos ofereces como se fosse um abraço. Retribuo-te deixando aqui o meu obrigada. Beijocas C.

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  6. Anónimo8.4.11

    As tuas palavras têm sempre algo de especial para partilhar, para nos transmitir. És certamente um coração generoso sem igual. Vamos tomar um café? Prometo que o tomamos devagar saboreando o liquido e as palavras ou os silêncios. Bjs, Luís

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  7. Anónimo8.4.11

    A primeira coisa que faço quando chego ao emprego é fazer um café, a seguinte é acompanhá-lo com a tua escrita. Sinto que é um calmo inicio de dia. Sinto a tua falta durante o fim-de-semana, mas compreendo que todos temos que descansar. Assim bebo o café e fico a ver o canal Panda com o Júnior. Bjs, Leonor

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  8. Anónimo8.4.11

    Sempre tão bonito e inspirador o que contas, depois de ler fico a divagar, mas logo a realidade me chama. Lá vem a Chefe! Mas prometo regressar, fazes-me bem…

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  9. Anónimo8.4.11

    Tão bonito, tão sereno. Por vezes também sinto necessidade dessa quietude porque a inquietude é mais própria da juventude. Felizmente a velhice tem coisas boas e uma delas é que as minhas amigas já vão aquietando-se e aproveitando melhor cada momento em que estamos juntas. Afinal temos “todo o tempo do mundo”. Penso que isso vem com a maturidade e a valorização do que a vida nos oferece. Um beijo grande, Adelaide

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  10. Anónimo8.4.11

    É isto mesmo a amizade, silêncios que dizem mais que palavras vãs. Entendimento e cumplicidade permanente. Estar de alma e coração ali para quem precisa. Rui

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  11. Anónimo8.4.11

    Como é bonita esta inquietude que nos aquieta. Sempre com a serenidade própria da maturidade. Um abraço, Antero

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