quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Post.it: Castings amorosos

Dou comigo a pensar em como tudo começa. Um sorriso envergonhado, um beijo meio desastrado no rosto. Alguém apresenta-nos, mas não ouvimos o nome, fixos que estamos naquele olhar. Perscrutando aquela alma ainda tão cheia de incógnitas. Cruzamos os braços, descruzamos, sem saber onde os colocar. Tocamos o rosto num gesto nervoso enquanto afastamos um cabelo rebelde. Depois lembramo-nos que noutras situações já passadas, naqueles momentos, os detalhes não ficam guardados na memória. A conversa sai sem assunto definido, rimo-nos e isso é quanto basta. Começam os telefonemas, os convites para, um cinema, um café. Recontamos o nosso passado, colorimos o presente e começamos a sonhar com um futuro a dois. Fazem-se passeios à beira mar, esse mar que conhece as esperanças e depois as lágrimas, caminhamos com passos controlados, hesitantes. A descoberta do factor comum, os gostos,  da personalidade. A entrega de sonhos, de desejos. Depois vem o amor a sério, porque antes o que disparou as hormonas foi a atracção física e psíquica. Agora é amor, dizemos nós ao coração quando este bate descompassado, cheio de dúvidas, que logo aquele abraço desfaz. Cresce esse sentimento que nos inspira e torna as manhãs mais suaves no despertar, como se tivéssemos uma nova razão para dar sentido ao passar dos dias.
Depois, de um momento para o outro com ou sem explicação torna-se passado. Repetimos as mesmas frases para nos animarmos, entre elas que “o sofrimento ensina e faz crescer”. Dando-nos uma lição que nos torna mais distante, desconfiadas. O tempo passa e os “castings” são cada vez mais cansativos, os finais cada vez mais dolorosos e juramos para nós mesmas que não vamos reviver a experiência.
No entanto e por uma estranha ironia que fica de cada história, a verdade é que não nos arrependemos de ter sofrido, se sofrer significa ter amado.
O coração acalma e leva-nos a pensar,  quem sabe num desses castings conseguimos o papel principal?

4 comentários:

  1. Anónimo25.11.10

    "Castings amorosos" que expressão engraçada. Mas realmente é isso mesmo, quase que é a apresentação dum curriculum. Para depois se não der certo recomeçar de novo a apresentação. No meu caso ainda pior, fiz um casting e fiquei aprovada durante vários anos, quando terminou fiquei atordoada, já não sei o que se faz nos castings. Beijos, Helena

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  2. Anónimo25.11.10

    Adorei a expressão, é mesmo assim que me sinto a cada recomeço. Felizmente já consegui o "papel principal" Espero que tu também o alcances. Beijocas

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  3. Anónimo25.11.10

    Castings amorosos? que boa descrição. Também ando à procura do "papel principal" mas só me calha "contracenar" com actores de 2ª. Bjs A.

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  4. Anónimo25.11.10

    Tens umas ideias originais, gostei desta expressão "castings", quando posso fazer o meu casting contigo? Também procuro um "papel principal". Bjs Luís

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