quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Era uma vez: Para lá do mar

Costumava sentar-se na areia a ver o mar e a ouvir o bater das ondas contra o molhe que se estendia água dentro, a tentar suster a força do oceano que, em dias de vendaval, se transformava em animal feroz, a rugir contra os homens que ousavam sonhar domá-lo.
Ele ousara desafiá-lo. Saíra em tarde que prometia tempestade. Dizia que com mau tempo os peixes se deixavam apanhar melhor e partira a sulcar as ondas na traineira com o seu nome – Maria dos Anjos. A tempestade crescera e ele não voltara.
Agora, restava-lhe olhar a água imensa e escutar as ondas. Às vezes parecia-lhe que, na voz do mar, vinha a dele a dizer-lhe o mesmo de sempre: “Não és dos anjos, és minha! És o meu anjo.” Anjos, seria, mas não fora capaz de guardá-lo. Gastara as lágrimas e o tempo à espera de um sinal de vida que nunca chegara. O amor, esse não se gastara, crescera na lembrança e no peito e fizera-se ausência e silêncio, mas nunca solidão. Estava com ele quando se sentava à beira-mar, ouvia-o no rugir das ondas, sentia-o na espuma que lhe beijava os pés e o vento continuava a trazer-lhe a sua voz “meu anjo, meu amor”.
Quem a via sentia pena da rapariga que se tornara mulher à espera do seu amor. Enlouquecera - diziam uns; fugira para dentro dela - achavam outros; ele levara-lhe o coração e a vontade - diziam os mais românticos. Ela deixava que pensassem o que quisessem. Assim, deixavam-na em paz e em silêncio a ver o seu amor bailar no vento e a voz dele a chamar o seu nome.
Um dia seria anjo e voaria para lá do mar, onde ele a esperava.
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6 comentários:

  1. Anónimo10.11.10

    História triste, mas bonita. O amor é assim, quando é, é para sempre. Tive um amor assim. Ao princípio nem gostava muito dela, mas o amor dela por mim contagiou-me e eu aprendi a amá-la. E amei-a muito. Ainda a amo. Quando a perdi, senti-me perdido. Com o passar do tempo descubro que continua dentro de mim e, embora sinta a falta da presença física, tenho comigo o amor que construímos e os 3 filhos que tivemos. Ainda há amor. A gente nova é que pensa que não porque não arrisca e não se compromete. Mas o amor ainda existe. Tem de ser construído e cultivado todos os dias. Bem haja por esta história e pela recordação.

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  2. Anónimo10.11.10

    Começo a gostar deste blog! Só queria que me dissesses onde posso encontrar um amor assim? Mas com alguém vivo!
    Fico à espera de mais histórias.

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  3. Anónimo10.11.10

    Para lá do mar e da compreensão. Há quem se entregue assim perca a vida à espera de nada. Até agora só encontrei falsidade e desilusão.
    Sonhos, faz-me acreditar no amor já que escreves tão bem sobre ele.

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  4. Anónimo11.11.10

    Devo dizer que sempre gostei deste blog. Gosto da escrita, gosto dos temas,gosto da sensibilidade feminina (que já julgava desaparecida), gosto dos Poemas, gosto do Era uma vez, gosto dos Post.its. Sobretudo gostava de conhecer as escritoras. Podiam colocar uma foto vossa no blog? Digamos que seria uma prendinha de Ntal para os vossos fãs. Hum? Beijos grandes

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  5. Anónimo11.11.10

    Desculpem a insistência, mas esqueci-me de dizer que também gosto da meditação, das músicas e das fotos. Ou seja gosto de tudo e também de vocês.

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  6. Obrigada aos que gostam do pós-de-bem-querer. Nós também gostamos de vocês!
    Uma foto? O que é um rosto e um corpo senão o envólucro do pensamento e do sentir da alma e do coração? Não é isso que quase todos esquecem neste mundo em que a aparência tomou conta de quase tudo?
    Pensaremos nisso, sem prometer nada.

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