quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Post.it: Alzheimer: um contínuo adeus

Minha querida amiga, há quanto tempo não nos reencontrávamos? Não há mais de um ano. E durante esse tão curto período em que para mim pouco ou nada mudou, alterou-se por completo a sua vida.
Olhou-me e não me reconheceu, reapresentei-me, mas o meu nome, o meu rosto caiu no seu interior sem encontrar eco na lembrança. Entristeceu-me aquele momento, aquele impasse em que buscava memórias que tinham desaparecido.
 Lembro-me que a minha chegada era para si uma quase festa, celebrada por largos instantes, por um olhar curioso que me questionava: como estava, o que andava a fazer, queria saber as notícias e contar-me as novidades. Hoje o seu olhar é vago ao encontrar o meu rosto, agora desconhecido. No entanto mantêm a mesma ternura, a mesma afabilidade para com uma estranha que sente, em algum momento teve um espaço na sua vida.
 Alzheimer, essa doença que a invade e lhe rouba o maior tesouro que vamos construindo e guardando ao longo da nossa existência. Lembranças de momentos que fazem a nossa história composta de amores, filhos, netos e amigos que partem sem partir.
Consola-me ver a sua doçura sem mágoa e a certeza de que mesmo sem saber nem questionar o porquê,  continua a amar-nos.

7 comentários:

  1. Anónimo2.11.11

    Sei bem do que falas, já o vivi bem de perto. Mas escrito assim parece mais fácil e menos doloroso, Obrigada, Amália

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  2. Anónimo2.11.11

    Minha querida, só tu consegues escrever desta forma sobre uma doença que nos deixa sem nada, Bjs A.

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  3. Anónimo2.11.11

    Tem toda a razão é uma “contínuo adeus” às nossas memórias que eram a base da nossa vida. Construída por tantos e tantos anos. Vai-se perdendo tudo e mais tarde ou mais cedo acorda-se sem nada para nos dar uma razão de viver. É realmente muito triste. Obrigada pela doçura como coloca o tema. Um grande beijo, Adelaide

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  4. Anónimo2.11.11

    Já passei por essa situação com um familiar, foi terrível, ver a pessoa a esvaziar-se de tudo, memórias, vontade e conhecimento. Quem acompanha sofre tanto ou mais do que a pessoa que tem a doença, porque tem clara noção enquanto o doente a vai perdendo. Leonor
    Só tu conseguirias dizer o que senti quando me tocou de perto, fiquei tão triste e senti-me tão impotente. Restou-me ver o tempo passar e perde-la um pouco em cada dia.

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  5. Anónimo2.11.11

    Que lindo e ao mesmo tempo triste post. Revi-me nas tuas palavras, na tua dor e na dor de quem se vai desvanecendo. Gostei muito da forma como descreveste e mais uma vez fiquei em silêncio, saboreando cada palavra. Porque é assim que deves ser lida e entendida. Beijocas C.

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  6. Anónimo2.11.11

    Compreendo as tuas palavras, a mágoa. Ainda bem que a tua amiga não se amargurou com isso.

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  7. Anónimo4.11.11

    O Alzheimer é uma doença degenerativa ainda sem cura, mas com tratamentos que retardam os seus efeitos. Para além da confusão mental que leva muitas vezes o doente a tornar-se irritável e mesmo agressivo ou deprimido, o seu culminar acontece na perda da memória e na sua total incapacidade de agir. É um quadro complexo e duradoiro, desgastante para doentes e familiares. Por isso criaram-se associações que visam minorizar o o desconforto do doente e dos seus familiares, por exemplo a Alzheimer Portugal. Sandra B.

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