sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Post.it: Castelos de areia

No percurso da vida construímos modelos, sonhos, ideais. Por vezes quase vislumbramos algo que se aproxima, que toca a orla da nossa utópica esperança. Ficamos sem ar de tão expectantes. O coração agita-se dentro do peito, como se fosse um órfão perante a possibilidade de encontrar um lar feliz. Estendemos os braços, abraçamos a hipótese com toda a força dos sentidos. Acreditamos e entregamos as nossas sensações, sonhos sonhados em tantas noites de solidão. Porém o tempo irá encarregar-se de derrubar os nossos castelos de areia, aqueles que em algum momento tentámos habitar. O modelo não se ajusta por completo, as peças da vida não se encaixam adequadamente. E a chama que quase nos incendiou o peito e toldou a razão, abranda e dissipa-se qual nevoeiro repentino que dança por momentos sobre a praia.
A realidade torna-se o choque do confronto, começa a doer como se fosse um fracassado intento, enquanto as palavras esvaziam-se de sentido e o silêncio conquista cada vez maior espaço. As emoções esvoaçam como andorinhas encandeadas com os reflexos do sol no mar. Batem as asas, confundem as direcções, quase chocam entre si. O coração fervilha numa turbilhão de decisões, grita não, à distância que aumenta, lança braços a bóias sem ar. Até que por fim deixa de lutar, deixa-se naufragar. Já nada faz sentido e é preciso arrumar o sentir, recolher os cacos de vida para os colar com a cola da esperança.

8 comentários:

  1. Anónimo4.11.11

    Lindo, minha querida amiga. É duro quando os nossos planos não se concretizam.

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  2. Anónimo4.11.11

    Vendo por este prisma diria que a culpa dos nossos fracassos é nossa, porque construímos Castelos na areia, mais tarde uma onda leva-a para longe. Bjs A

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  3. Anónimo4.11.11

    Minha querida, que beleza de texto, intenso e claro. Mais do que o que escreves a forma é que me deixa sem ar, leio-o num fôlego só e acabo a suspirar, quem me dera saber escrever assim. Acho que todas as cartas de amor que escrevesses só podiam ter a melhor resposta. Não queres escrever uma por mim? Beijocas C.

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  4. Anónimo4.11.11

    Gostei, gostava de citar algumas das suas frases, mas são tantas que não as posso isolar do texto. No fundo todo ele é muito bonito, muito real, os nossos ideais que pouco têm de realidade, mais tarde ou mais cedo desmoronam-se. Um beijo grande, Adelaide

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  5. Anónimo4.11.11

    Continuamos na temática dos afectos, dos sucessos, dos fracassos. Não é uma repetição, ou melhor, não o leio como tal. Porque à nossa volta e connosco acontecem inúmeras situações. Sobretudo agora que a crise nos sufoca, se não forem os afectos, para onde nos vamos virar, entramos em colapso total.

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  6. Anónimo4.11.11

    Castelos de areia quem não os construiu? Na praia ou nos sonhos. Todos nós porque precisamos de sonhos para conseguir encarar a vida com mais ânimo

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  7. Anónimo4.11.11

    Gostei deste post. Gosto de castelos de areia, mesmo que desapareçam uma qualquer onda o leve consigo, desde que tenha nele a pessoa especial. Construiremos outros se for forte a vontade!

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  8. Anónimo4.11.11

    Gosto da tua escrita, encontro nela sempre o conforto que preciso. Sinto quase como se adivinhasses o que preciso de ouvir. Diria, tal como muitas outras pessoas, que escreves para mim. Na realidade não nos conhecemos, mas desde já admiro-te em cada expressão, quando as palavras banais escritas assim deixam de o ser. Flávia M.

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