terça-feira, 22 de novembro de 2011

Post.it: Vestida de noite

É uma mulher normal, todas as manhãs acorda os filhos, dá-lhes o pequeno-almoço e acompanha-os à escola. Depois dorme num horário desencontrado da cidade onde vive. Dorme e sonha, sonhos de liberdade, sonhos de felicidade. E neles vive tudo aquilo que não encontra ao abrir os olhos. Os dias decorrem devagar, sempre coma mesma rotina. A sua alegria é aqueles filhos, fruto de amores e desamores, mas que permanecem filhos muito amados, acima de todas essas tristes lembranças, desaires da sua história.
Um último olhar para o relógio, um último suspiro enviado na direcção da janela que revela o dia a desvanecer-se no horizonte. Despe o sorriso maternal, pinta outro de vermelho no rosto marcado pelo cansaço, veste a noite e para a noite sai, perdendo-se numa qualquer esquina da cidade. Quem se cruza com ela apenas vê um corpo catalogado pelo preconceito e um preço. Mas no seu lar, não muito distante, dormem os filhos que abraça todas as madrugadas quando regressa. Quando despe a noite e se veste de mãe.

7 comentários:

  1. Anónimo22.11.11

    Nunca deixe de olhar o mundo com esses olhos tão cheios de coração. Nunca deixe de nos trazer aqui as realidades que muitas vezes nos passam ao lado e que nos esquecemos de compreender. Um grande obrigada e um terno beijo de amizade, Adelaide

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  2. Anónimo22.11.11

    Gostei muito, sinto a tua presença, em cada palavra. Vejo o teu olhar em cada expressão e sinto que és uma janela aberta que nos leva a ver através de ti. Obrigada, por seres assim…

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  3. Anónimo22.11.11

    Fiquei francamente admirada com este tema, controverso, mas que lhe deste uma fabulosa viragem. Vindo de ti, não me deveria surpreender mas surpreende porque ressaltas os detalhas que muitas vezes nos esquecemos de reconhecer, que não são apenas profissionais, são sobretudo mulheres e essencialmente mães tal como nós, desejosas de despir a “farda” e os abraçar. Leonor

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  4. Anónimo22.11.11

    Subtil e consciente, são duas palavras que esclarecem o tratamento do tema. Mas também doce, de uma ternura feminina, solidária e partilhadora das dores alheias. Todos nós o sabemos, mas a nossa indiferença quere-o esquecer. Faz parte da nossa sociedade, quase da nossa cultura, “a mais velha profissão do mundo” refere o desdém de muitos. Felizmente há muitos outros que conseguem ter outro olhar e têm a coragem de o mostrar. Belíssimo texto. Um abraço, Antero

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  5. Anónimo22.11.11

    Gostei deste post peculiar no tratamento, relembrando que são mulheres e mães em muitos casos.

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  6. Anónimo22.11.11

    Bonita homenagem a estas mulheres que sofrem com a descriminação da sociedade em geral.

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  7. Anónimo22.11.11

    Sempre sensível às realidades da nossa sociedade de uma forma literária muito bonita. José

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