terça-feira, 29 de novembro de 2011

Post.it: Oferece-me um presente

“Oferece-me um presente”, disse-lhe ela num fio de ar que parecia ter dificuldade em sair dos pulmões. Numa breve interrupção do silêncio que não o chegou a perturbar. Assim, tão perto da quadra natalícia, poderíamos ser levados a pensar que era uma prenda, que pedia timidamente a sua voz quase imperceptível. Mas ao observá-la, ao descortinar a penumbra do seu olhar, duvidamos. Ao escutar aquele pedido efectuado sem quase  alento, confirmaríamos. Ninguém  pede uma prenda sem um ímpeto de expectativa antecipando a chegada, sem sentir por ela a presença de sininhos de esperança ressoando na fantasia.
“Oferece-me um presente”. Compreendemos este pedido, este quase apelo de uma  alma que se desnuda. Ela pede-lhe um presente, apenas um presente, sem coragem de pedir igualmente um futuro. Basta-lhe um presente, vivido, sentido, com verdade e esplendor. Um esplendor que se afastou da juventude, mas que ainda lhe corre apaixonado e vibrante nas veias.
“Oferece-me um presente”, insistiu num último resquício de coragem.
Fiquei presa daquela cena, dos seus silêncios constrangedores e anelante por uma resposta que lhe faria sorrir o coração.
Mas preferi afastar-me, deixar no ar a validade de qualquer resposta. Preferi guardar a lembrança como se fosse a última folha amarelecida de Outono. Afastei-me para permitir-me sonhar, que alguém lhe ofereceu realmente um “presente”.

9 comentários:

  1. Anónimo29.11.11

    Quero saber o resto da história. Soube-me a pouco, este enunciar sem concretizar o final. Não sou como tu que te afastas para ter permitires sonhar com um final feliz. Leonor

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  2. Anónimo29.11.11

    Só um olhar como o teu, só um coração assim tão delicado, poderia sentir, e oferecer-nos discretamente esta história, numa escrita que desenha um sólido presente e arquitecta o seu sucesso de futuro. Bjs A.

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  3. Anónimo29.11.11

    Tão bonito, quase consegui ver a “penumbra daquele olhar”, Quase consigo ouvir o “seu fio de voz” terno, tímido, vindo do coração.

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  4. Anónimo29.11.11

    Fico sempre surpreendida com a conjugação de ideia que consegues transmitir. O tema é simples, mas a forma como o envolves de emoções tornam-no especial.

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  5. Anónimo29.11.11

    Minha amiga, sempre tão sensível na descrição de quadros humanos. Adorei, há coisas que escreves que me deixam sem palavras, enquanto a alma fica a sonhar.

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  6. Anónimo29.11.11

    Minha querida se me fizessem o pedido de um presente, oferecia-lhe mais que um presente mas um futuro. Porque não consigo negar um pedido desses. Beijocas C.

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  7. Anónimo29.11.11

    Mais um daqueles quadros que nos deixam à espera do final. Será que lhe deram um presente? Será que conseguiu chegar mais longe e obteve um futuro. Aquele que todos merecemos ter. Um grande beijo, Adelaide

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  8. Anónimo29.11.11

    Todos devíamos ter o direito a um presente de felicidade. Não devia ser necessário pedi-lo porque tem de ser uma oferta da vida. Mas quantas vezes o coração manda mais que nós e deseja esse presente que pode ter ou não futuro. Sandra B.

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  9. Anónimo29.11.11

    Gostei muito de ler esta cena, de ficar a imaginá-la. Quem sabe teve um final feliz, quem sabe não teve essa sorte. Fico a torcer por cada presente, para que traga a prenda natalícia ou não de um futuro.

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