terça-feira, 5 de julho de 2011

Era uma vez: No reino mágico das fadas (49)

Era quase madrugada e Marbel continuava no parapeito da janela, olhando as estrelas que se iam desvanecendo na luminosidade tímida da manhã que se anunciava. Deixara vogar a mente pela lonjura do firmamento, fortalecendo a vontade com da luz das estrelas e a força que mantém em equilíbrio todo o universo. Afastara-se para ver e compreender melhor o seu mundo – o reino mágico das fadas que deixara de o ser e se tornara o reino unido das fadas e seres brilhantes, onde a magia continuava a existir, mas cedera o papel principal à confiança e à vontade.
Era esse o novo reino que a esperava e no qual esperavam que ela desempenhasse as funções próprias da sua condição de filha da rainha. Sua mãe já aflorara o assunto ao falar da vontade que sentiam, ela e Ornix, de se afastarem e passarem a ter uma vida calma e só deles. Desde a Noite da Reunião que o governo do reino unido fora presidido pelos dois, mantendo-se o conselho de decisores para os assuntos da ilha e o conselho das fadas para os assuntos do reino mágico. Tinham encontrado uma solução política de partilha de funções dirigentes que permitira manter a confiança mútua e promover o progresso e o bem-estar em todo o território. Também as forças de segurança, sob a direcção coesa do Guardião e da fada Astuta, se tinham transformado numa força única cuja acção se centrara sobretudo na manutenção da ordem interna, através de uma actuação preventiva, e na garantia de que as relações com os espaços externos se efectuavam sem perigo para o reino unido. Os serviços de pesquisa científica da ilha mantinha relações estreitas com os criadores de magia do reino mágico e, com esta colaboração, tinham conseguido alcançar objectivos há muito perseguidos, como a prevenção e tratamento de doenças físicas e psíquicas, a construção de tecnologias inovadoras que facilitavam o dia-a-dia das actividades produtivas e domésticas e enriqueciam as de cultura e lazer. A educação das gerações mais jovens, em escolas comuns e espaços de aprendizagem activa, era partilhada e centrada no desenvolvimento da curiosidade e interesse pelo saber e na formação de uma consciência de cidadania responsável em que, valorizando a dimensão individual da existência, preparava cada indivíduo para pensar e agir com vista ao bem comum.
Concentrada nestes pensamentos, a princesa viu chegar a luz solar que foi enchendo e dando cor à paisagem que se estendia a partir da sua janela até se perder no horizonte na cor dourada das montanhas onde, mais tarde, a mesma luz desapareceria para dar lugar ao cair da noite. Afeiçoara-se àquele lugar e tinha decidido continuar a viver ali. Com a tecnologia da teletransportação desenvolvida pelos seres brilhantes e muito aperfeiçoada desde a sua primeira utilização, a mobilidade tornara-se quase ilimitada e as distâncias passaram a ser irrelevantes. Por isso, o facto de se tratar de um lugar muito afastado não constituía problema. Lembrou-se de como atravessara o lago das mil cores, há um século atrás, com um voo rasante das águas e de como se sentira poderosa por dominar aquela magia de levitação e movimento. Sorriu. Como estava longe desse tempo e da miúda irresponsável e arrogante que era nessa época! Aproximava-se a hora de voltar ao convívio social e de viver a sua vida de fada adulta. Sentiu-se inquieta. Estaria preparada para as responsabilidades que todos esperavam dela?
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Continua
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No reino mágico das fadas (1)
http://posdequererbem.blogspot.com/2011/01/no-reino-magico-das-fadas-1.html

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