quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Post.it: A vida que te dei

Porque te dei a vida? Dizes-me isso como se tivesse sido, um acto de egoísmo da minha parte. De quem quer realizar através dum filho os seus sonhos impossíveis. Mas a verdade é que quando pensei em conceber-te, tive apenas como objectivo o desejo de te amar e fazer feliz. Claro que no meu ideal, tudo era possível de te oferecer e de te proteger. Mas fui descobrindo que podia tentar, mas nem sempre, concretizar os meus objectivos e os teus desejos. Em alguns momentos, sinto que fracassei, mas noutros, quando leio uma luz de felicidade no teu olhar, sei que consegui cumprir o meu papel de mãe.
Sobretudo sei que tudo o que fiz foi com o coração cheio de amor e de esperança, sentindo que estava a realizar o melhor para a tua vida. Porque é disso que se trata, a tua vida, a que te ofereci. Pois fui concluindo com alguma angústia, que posso caminhar a teu lado mas não a posso viver por ti.
Porque nunca te prometi que só terias alegrias. Mas tentei ensinar-te a superar as tristezas.
Não te prometi riquezas materiais. Mas tentei que desenvolvesses potenciais para as alcançares.
Não te prometi que viverias num mundo perfeito. Mas tentei que aprendesses a lutar pelos teus sonhos e direitos.
Não te prometi que o egoísmo de algumas pessoas não te magoaria. Mas tentei incutir-te valores para os perdoares nas suas faltas.
Não te prometi imunização contra os obstáculos do caminho. Mas tentei que adquirisses capacidades para os ultrapassares.
Não te prometi que todas as amizades seriam leais e companheiras. Mas tentei que aprendesses a valorizar os verdadeiros amigos e a ser compreensiva com os que o não são.
Não te prometi que serias sempre saudável. Mas tentei ensinar-te a paciência para lidares com os teus males.
Não te prometi que só irias desenvolver pensamentos felizes. Mas tentei fortalecer-te para os aprenderes a direccionar nesse sentido.
Não te prometi que tudo na tua vida iria correr bem. Mas tentei intensificar o teu carácter para que inteligentemente construísses novos objectivos.
Não te prometi que todos te amariam. Apenas disse que te amaria incondicionalmente e para sempre.

7 comentários:

  1. Anónimo19.1.12

    Um genuíno sentimento de mãe! Quem dera que pudéssemos viver as agruras da vida dos filhos e deixar-lhes apenas a alegria e a felicidade! Quem dera que pudéssemos alisar o presente e oferecer-lhes o futuro que sonham!
    Mas "podemos tão pouco pelos que amamos"!
    Só podemos estar presentes e cuidar e ouvir e abraçar e orientar e perdoar e amar sem condições. É o papel das mães - amar!
    Obrigada por esta carta, de palavras sábias e tão bem ditas!

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  2. Anónimo19.1.12

    Gostei desta leitura, desta mensagem, profunda. Muito sentida. Não sei se é mãe, mas psicologicamente é-o porque tem biologicamente esse amor. Por filhos a quem damos a vida, num gesto que nada tem de egoísmo, mas muito de amor, e ainda de sacrifício, de cedência. Uma missão que encaramos como nossa para sempre, enquanto são pequenos e continuando pela vida fora. Porque não conseguimos dilatar essa noção, continua a ser uma relação uterina, que nem os pais conseguem entender. Criamos sonhos de lhes dar tudo o que concebemos, mas quanto maiores são os nossos, maior é a desilusão porque, eles saem tão depressa do nosso colo e criam a sua independência. É natural que assim aconteça, mas o nosso amor ainda não se adaptou à mudança. Esperamos reciprocidade, dessa entrega de anos que lhes fizemos, mas há fases em que apenas recebemos uma revolta que nos magoa. Esperamos, acreditamos que vai passar, e, passa, porque um dia será a vez deles de serem pais e entenderem o amor dessa vida que lhes foi dada. Sandra B.

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  3. Anónimo19.1.12

    Mais uma vez fiquei sem palavras, num silêncio que te quer dizer, adorei esta mensagem. Pergunto-me surpreendida a cada dia que passa, como é possível existirem pessoas como tu. Com tal noção duma realidade que vivemos, e sentimos há nossa maneira. És sem dúvida uma pessoa especial e singular na forma de escrita. Beijocas C.

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  4. Anónimo19.1.12

    Entendo tudo isto como mãe, entendo-a como filha. Não é uma dicotomia fácil de gerir. O choque geracional. O grito de independência que nos grita o coração. O desejo de amar, de proteger, de evitar as quedas que nós já demos e sabemos o quanto doeu. Percebi, um dia que eles só aprendem quando a experiência é sua. Então pus o coração ao largo, e passei a esperar, como a “maleta dos primeiros socorros em prontidão”, neste abraço que nunca se fecha para eles. Leonor

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  5. Anónimo19.1.12

    Uma mensagem, que nos entra no coração, enquanto mães, enquanto filhas. Enquanto avós. Conscientes de que tentamos dar o nosso melhor, de acompanhar, apoiar, evitar as quedas, curar as feridas. Mas tal como você diz, não podemos viver a vida deles, nem sofrer por eles, mas com eles. Presentes para sempre. Um grande beijo, Adelaide

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  6. Anónimo19.1.12

    Gostaria de lhe dizer tudo isto. Mais do que isso queria passar-lhe essa sensação. Protegê-los, amá-los e sentir que eles sabem que esse amor é incondicional. Amália

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  7. Anónimo19.1.12

    Muito bonito, este vai directamente para o meu facebook

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