quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Post.it: Lagartixa ou jacaré?

 “Quem nasceu para ser lagartixa nunca chegará a jacaré”. Um ditado antigo que parece aprisionar-nos para sempre numa terrível estatística. Amartya Sen, prémio Nobel da Economia (1998), defende que  “a pobreza não se mede pela existência de um ou mais dólares na carteira”.
Porque a pobreza, conclui, ou ausência dela, depende menos do dinheiro do que das circunstâncias onde vive cada pessoa, da sua genética, da sorte, dos seus pais, do clima, da roupa que usa, da voz que tem, das emoções que transmite e de um conjunto impressionante de outras possibilidades que salvam uns mas condenam outros.
Contudo Amartays vai mais longe na sua abordagem “O desenvolvimento consiste na eliminação das privações de liberdade que limitam as escolhas e impedem de exercer ponderadamente a sua condição de cidadão”. Dando ênfase à questão de que as pessoas devem ser livres para fazer o seu caminho, ampliando a ideia de que a liberdade molda a evolução do desenvolvimento humano. Concluímos que não é um percurso fácil mas que é possível, libertarmo-nos definitivamente da possibilidade de entrar e permanecer na lotaria Darwiniana. Para tal temos de construir uma nova herança social, quebrar o elo mais fraco e construir outro fortalecido pelo poder da acção. Conscientes de que podemos ter um papel decisivo no sucesso ou insucesso pelo uso da nossa liberdade. Sem ficarmos simplesmente “condenados” , pela sorte ou pela falta dela.
Agora que esperavam que esta fosse a  conclusão indiciando que se deve contrariar a ordem estabelecida tornar-se num self made man, vou virar o rumo da intenção discursiva. Porque “Se é verdade que a lagartixa nunca chegará a jacaré”, observemos pela positiva, terá uma vida feliz num qualquer jardim sem “acabar em exposição numa loja de malas” Quem é que deseja ser um mau jacaré quando se pode ser uma excelente lagartixa? Não é uma questão de acomodação, mas de opção entre andar eternamente atrás de sonhos ou melhorar em cada dia a sua realidade. Afinal a sociedade é composta de tudo e de todos os que representam com brio e perfeição o seu papel. Agora sim, e em conclusão, tudo é válido e meritório, o esforço para conquistar um lugar no topo da hierarquia ou ser a solidez da base que equilibra a pirâmide.

8 comentários:

  1. Anónimo4.1.12

    Que maldade para o pobre jacaré, acabar numa loja de malas, um duro exemplo que nos mostra que seja qual for o nosso destino, devemos ser bom no que fazemos, porque aprendendo a gostar um dia gostaremos, mesmo.

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  2. Anónimo4.1.12

    Fiquei a refletir sobre este texto, tem muito de verdade. O meu sonho profissional era ser pintor, mas tive que cair na realidade e concluir que isso nunca seria o meu futuro de sucesso. Optei pelo Direito, nem sempre me sinto realizado, mas fico bem comigo quando cumpro os meus objectivos. Quanto à pintura, tornou-se a minha companhia de momentos em que preciso de me reencontrar. Alberto F.

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  3. Anónimo4.1.12

    Gostava de dizer que sou bom no que faço. Há dias em que tudo corre bem, outros há que tudo corre ao contrário. São as contingências do ensino! Poderia ter escolhido por influência familiar outra profissão, talvez mais calma, mais segura, mais valorizada. mas a verdade é que na maior parte do tempo sinto-me feliz com a minha escolha, e exijo de mim, melhorar um pouco em cada dia. José

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  4. Anónimo4.1.12

    Gostei deste texto, cheio de curvas que parecem levar-nos num sentido e acabamos noutro. Apreciei a viagem, encontrei-lhe pontos de concordância, duma análise bem verdadeira. Acredito que só seremos bons no que fazemos se isso nos fizer feliz. Um grande beijo, Adelaide

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  5. Anónimo4.1.12

    Muito giro, adorei. Realmente parece que vais numa direcção e de uma forma muito inteligente, dá a volta e referes o valor que todas as profissões têm na sociedade. Não podemos ter uma sociedade cheia de diplomas, quando depois não encontramos um bom profissional para as coisas essenciais. Bjs, Amália

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  6. Anónimo4.1.12

    Muito válido este recado. Devemos ser bons, antes de sermos bem sucedidos. Precisamos de pessoas que façam bem e não que exibam um canudo e não saberem o que fazem.

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  7. Anónimo4.1.12

    Um texto diferente, do habitual, mais concreto. Mas igualmente bem escrito e transmissor de uma mensagem. Não temos que ficar condenados à lotaria Darwiniana, ou seja desistirmos de lutar na sua consequência. Mas por outro lado para quê continuar a herança familiar e torna-se mais um médico, um possível mau médico se tiver a chance de torna-se um bom carpinteiro? Um grande abraço, Antero

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  8. Anónimo4.1.12

    Claro que desejamos o melhor para os nossos filhos. Tentamos que vivam numa sociedade igualitária, mas vou chegando à conclusão que o melhor é que sejam felizes no que seguem. Afinal fazem um curso e depois não encontram aplicação para ele. Mais vale que arregacem as mangas e vão à luta e como tu dizes sejam a base ou o topo da pirâmide.

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