terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Post.it: Na sombra dos dias

Um adeus, um recomeço, um gesto adiado, um passo parado. Uma espera de tudo, uma espera de nada. Uma pergunta calada. Uma resposta nunca dada. Eis a sua história, sem presente, sem passado e mais ainda supõe, sem futuro. Causas, culpas, não existem. Apenas uma espera cansada de esperar. Que tudo aconteça, que se abra a porta, que alguém bata na janela. Quem? Questiona o coração. “A esperança”. De quê? Menciona a dúvida. “De encontrar a felicidade”. Mesmo que não tenha nome, que surja num rosto desfocado pelo desvanecer da memória.
Mas enquanto há vida, há esperança, repete de sorriso triste, quem já não tem motivos para sorrir. De quem viveu uma vida a esperar, por algo que tardou tanto, que cada vez mais acredita que nunca chegará esse alguém que lhe afague os últimos cabelos brancos e, que lhe encha de sol o olhar já entardecido.
Todas as manhãs ergue a esperança, arranca-a do leito onde teima em ficar, já sem forças para continuar a ser a coragem daquele corpo fatigado, mas não esgotado, refere num ímpeto de teimosa insistência. Porque os seus passos ainda insistem em caminhar na sombra dos dias que passam sem deixar rasto, em busca de outros passos também cansados de andar sozinhos e que queiram fazer companhia aos seus.
Vejo-o afastar-se devagar, porque, embora o coração tenha pressa, a vida não tem pressa de chegar, quer apenas continuar a ser vivida.
Pergunto-me se conseguiria esperar assim, uma vida inteira e, concluo que “depende mais do mar do que da maré”. De encontrar em cada dia uma razão para acreditar. “Dá-me um sonho e eu continuarei a sonhar” e a caminhar ainda que apenas, na sombra dos dias.

9 comentários:

  1. Anónimo24.1.12

    Este texto deixou-me a pensar em tudo o que esperamos e nem sempre se concretiza. Será que vale a pena? Mas por outro lado, tenho-me dado mal com as precipitações. Por isso suponho que só se deve esperar pelo que é possível de se obter, não hoje, talvez não amanhã, mas no tempo certo.

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  2. Anónimo24.1.12

    Um texto de incentivo, não à espera mas à perseverança. Uma vida que nem sempre podemos ter como uma permanente conquista mas também de alguma tranquilidade na espera de alcançar o futuro desejado. Ninguém pode viver acomodado, desejando que tudo lhe surja em oferta. Mas por outro lado também não é bom insistir num desejo que já não nos pertence. O equilíbrio é difícil de estabelecer, mas por vezes desistir não é um acto de incapacidade, mas muitas vezes, a verdadeira coragem. Sandra B.

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  3. Anónimo24.1.12

    É preciso coragem para esperar assim, para “erguer todos os dias a esperança”. Eu não tenho essa coragem, luto, até ficar sem forças e depois desisto. Afinal o que for para mim, há-de vir “bater à minha porta”. Amália

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  4. Anónimo24.1.12

    Muito bonito este texto, quase que consegui visualizar e sentir este personagem, caminhando com os passos já pesados, mas insistentes no caminho. Ainda acreditando que a felicidade pode vir na sua direcção. E sonhando ainda com alguém que lhe “afague os últimos cabelos brancos e lhe encha de sol o olhar” Um grande beijo, Adelaide

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  5. Anónimo24.1.12

    Um começo feito de esperas, depois de uns quantos recomeços. De finais que chegam sempre e nos deixam mais uma vez nessa espera. Depois de tantas, já não há causas mas apenas consequências. Perguntas que se vão calando, certezas que vamos aceitando. Quem sabe na esperança de um último afago, trocado. E aquela sol que volta a brilhar no nosso olhar, janelas da alma? Entretanto, vamos ficando nos entre tantos. Em cada dia que vive irremediavelmente na sua sombra. Bjs A.

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  6. Anónimo24.1.12

    Mais um texto muito bonito para reflectir, é quase um crime, chamar-lhe post.it. Alberto F.

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  7. Anónimo24.1.12

    Gostei de ler esta narrativa. Melancólica, analítica e particularmente sentida e que simultaneamente nos faz sentir. A sombra dos dias, esses que vão partindo, mas que ainda conseguimos que traga outros, sempre com o mesmo desejo, de alcançar a felicidade, essa terra prometida. É ela que nos faz erguer e continuar a singrar e a sangrar, por esse afago que nos ilumina o olhar. Um grande abraço, Antero

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  8. Anónimo24.1.12

    Esperar? Não sei se esperaria, depende muito do grau de esperança depositado nessa esperança. Do merecimento dessa espera. Sinceramente, não sei se me bastaria em viver na “sombra dos dias”

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  9. Anónimo24.1.12

    Já esperei demasiado, acabei por desistir, antes que o cabelo branqueasse, as rugas marcassem o meu rosto, antes de só ter a amargura da espera para oferecer.

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