sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Post.it: Escrever o caminho

“Vive a vida na ânsia de um cavalo cansado, cansado, mas não derrotado”. Que continua sem desistir, talvez já não corra, talvez apenas trote, caminhe de passos lentos, trôpegos até. Mas quando se tem um objectivo superior,  as forças renascem, o ânimo reacende-se.
E não importa a soma dos anos, nem a neve que se instalou nos seus cabelos.
Escreve, regista cada momento, no diário de memórias, antes que o tempo as roube. Escreve, mesmo que a mão trema, continua firme o coração. Escreve para encontrar um caminho que o leve à meta, conhece-a, ou melhor, adivinha onde ela está. Já tentou seguir por atalhos, numa escrita ténue de sentimentos e suave de emoções. Um a escrita que tocou  uns, que passou ao de leve por outros e ao lado de muitos.
 Mas agora, agora que o fôlego lhe vai faltando, escreve com coragem, com a última réstia de alento. Escreve desejos que já não se escondem, que se assumem reais. Não podemos adiar a vontade, quando esta dita o ensejo, o destino. Mesmo que ele não se cumpra. Que fique aquém do nosso empenho.
Escreve, porque a voz o trai, por timidez ou inibição. Escreve, porque sempre encontrou nas letras a amizade leal que só elas podem oferecer.
No final da tarde, pousa a mão cansada da missão. Pousa os pensamentos. Descansa os desejos. Saboreia cada frase, respira cada palavra e sorri. A obra não está perfeita, mas está igual a si, humana, palpitante de vida. Numa escrita que o eterniza tanto tempo quanto o permitir o papel folhado por muitas mãos que nunca o conheceram como homem, apenas com autor daquele livro de capa bonita que fica bem em qualquer estante e quem sabe em qualquer coração que o leia, ofereça, partilhe e o leve tão longe como o sonhar de quem o escreveu.
A mão continua pousada, incapaz de escrever a palavra fim, porque nenhum livro tem um final definitivo, cabe a cada leitor acabá-lo. Enquanto ele, autor, descansa a pena e adormece ao mesmo tempo que o sol se põe no horizonte.

6 comentários:

  1. Anónimo27.1.12

    Um texto bem bonito, muito íntimo, dum escritor que dedica a sua vida a escrever o que lhe vem da alma. Depois cabe a cada um que o lê, dar-lhe a possibilidade de voar dentro de si. Um grande beijo, Adelaide.

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  2. Anónimo27.1.12

    Adorei esta confissão dum escritor em fim de carreira, que tem vontade de escrever a sua última obra sem saber se tem forças para isso. Imagino-o frenético, na ânsia de conseguir acabar e quando chega ao fim percebe que esse final não lhe pertence, que é do leitor que o perpetua para além de si. Lindo.

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  3. Anónimo27.1.12

    Amiga, sinto em mim cada história, real ou não que nos deixas aqui. De vez em quando releio-as e surpreendo-me sempre com a sua sensibilidade e riqueza de emoções que elas transmitem. Está não lhes fica atrás, é igualmente muito bonita. Beijocas C.

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  4. Anónimo27.1.12

    Que acrescentar a este texto? Nada, apenas esperar que a obra surja nas livrarias para a folhear, a viver e apreender o sentir do autor. Alberto F.

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  5. Anónimo27.1.12

    Ainda tens muito para escrever, não pouses ainda a caneta. Não sigas este escritor, porque cada um tem a sua meta e a tua está certamente ainda muito longe. Bjs A.

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  6. Anónimo27.1.12

    Gostei deste escrever o caminho, mais um daqueles quadros que nos ofereces. Tão repleto de imagens e sentimentos que quase conseguimos visualizar.

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