quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Post.it: Um barco em terra

Ericeira
Tinha um pôr-do-sol que enchia os olhos. O mar no seu eterno ondular acalentava os sentidos. A praia quase deserta adormecia na penumbra. A brisa marítima trazia odores de mar e de marinheiros. As gaivotas no seu voar entoavam a melodia dum regresso a casa.
Eu, que outrora naveguei por estas águas, que me deixei embalar pelas suas ondas e adormecer no seu sussurro, estou hoje em terra!
Puseram-me o nome de Luar de Agosto, mas sinto-me cada vez mais um fim de Dezembro...
Que saudades de navegar, que saudades desse mar, dos pescadores na sua faina.
Puseram-me em terra, esmoreci.
Ao longe chamam por mim,  vozes dum  mar infinito,  sereias a cantar...

1 comentário:

  1. Descrição perfeita!
    O barco parado de mar e vida, ainda luar, mas mais ocaso sem esperança de novo dia, embora as recordações ainda o façam sonhar.
    Lembrei-me de uma idosa que vi a uma janela de Lisboa, numa casa térrea de Alfama. O seu olhar poderia ser descrito assim, como um barco em terra, esquecido pelo mar, num final de Dezembro em que a luz vai esmorecendo e o frio vai entrando pela porta e inundando a vida.
    Apetece dizer como Calimero "That's un injustice, yes it is!"

    ResponderEliminar