quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Post.it: Solidão

Aquela em que quando despertamos  nenhuma voz nos dá o bom dia.
A que fica quando os filhos saem de casa seguindo o seu rumo.
Quando o companheiro parte da vida ou para outra vida.
Quando os pais mudam para outro lar.
Ou a que sentimos quando o fiel amigo de quatro patas deixa de
 saltitar ao nosso lado.
De repente a solidão torna-se uma companheira, a companheira
que ao longo da vida desejámos, que não nos desarruma a casa,
não deixa o champô  destapado, a tampa da sanita levantada, as
roupas espalhadas pelo chão.
Amiga que não invade o espaço, não nos enche o roupeiro e
as gavetas, que não coloca os seus livros de histórias junto
com os nossos livros de História, que não controla o televisor,
que não monopoliza o pc.
A solidão que deixa-nos ouvir a nossa música num tom suave
sem que as paredes estremeçam, que nos deixa ver um filme
sem interrupções.
Mas esta nova companheira tem um problema, vai crescendo,
vai-se instalando, vai controlando e esvaziando os nossos dias,
as nossas emoções e desejos. A casa passa a ser sua.
A música que ouvíamos já não nos apetece escutar.
Habituamo-nos à sua música composta de silêncio.
Uma absurda saudade invade-nos, absurda porque sempre a
criticámos. Cresce a saudade das vozes, dos risos, da
desarrumação que nos chateava, mas que no fundo despertava-nos
da inércia e dava sentido à nossa vida.

3 comentários:

  1. Nunca encontrei uma definição de solidão tão exacta como esta: de início, quase se deseja; ela vem e instala-se, para, depois, mostrar todo o seu poder de absorção da nossa força e da nossa esperança. Quando desejamos afastá-la, ela insiste em mostrar os seus pontos fortes e em enganar a nossa vontade, semeando em nós o medo de nos afastarmos dela e de arriscarmos deixando que alguém ocupe o seu espaço. É uma amiga traiçoeira, não podemos deixar-nos seduzir por ela.

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  2. Anónimo29.9.10

    A solidão ensina-nos a valorizar as pessoas que temos à nossa volta.

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  3. Anónimo29.9.10

    É verdade estamos sempre a desejar estarmos sós mas estamos, só desejamos companhia, afinal não somos ilhas.

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