sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Post.it: De que são feitos os dias?

Que nos traz a precoce madrugada quando o dia ainda se espreguiça?, o silêncio, a brisa, um pássaro que se surpreende com a matinal presença e me brinda com um bom dia repenicado.
No café as vozes dormentes dão um cumprimento emudecido, cheira a pão quente, a café acabado de fazer. O jornal sobre a mesa relata noticias amargas. O mundo gira com esforço, e ainda é muito cedo para encarar a crise económica e social. Os meus olhos repousam por momentos nos rostos anónimos, pessoas com pressa de chegar e de partir. De que são feitos os dias de cada um? Da criança que está ansiosa para ir para a escola e reencontrar as coleguinhas; do homem que ajeita a gravata de modo ansioso, deve ir a uma entrevista de emprego, e da jovem elegante que depenica o croissant com vontade de o devorar, mas não era chique.
Um  casal idoso entra devagar,  escolhe um mesa de canto, não quer proximidade com o grupo de adolescentes que contam as historias das férias, precisam de tranquilidade, de comer devagar, de saborear a torrada, porque a vida foge se não for apreciada.
As horas num compasso impiedoso chamam à realidade os mais distraídos, que saem   a correr para levar os filhos à escola, os jovens correm tentando simultâneamente colocar as mochilas no ombro. O homem do nó da gravata apertado rendeu-se ao incómodo e saiu com o passo decidido de quem vai conseguir atingir os seus objectivos, a jovem elegante suspira e opta pelo copo de água em detrimento entre o resto do bolo, beleza a quanto obrigas!
A vida corre lá fora, cada história prossegue…
O meu olhar esquecido regressa ao interior do café, alheios a tudo o casal de idosos continua  o seu pequeno-almoço, olham-se nos olhos e sorriem, como se dissessem, já fomos assim, apressados, agora, finalmente temos tempo para saborear a vida e esta torrada está deliciosa...


3 comentários:

  1. Sinto que o meu dia " de ficar a saborear a torrada" está cada vez mais perto.
    Já não corro com mochila às costas, já não opto pelo copo de água em detrimento do bolo, já não corro para o tabalho.
    Limito-me a olhar, espreguiçar, apreciar o canto dos pássaros, a cor das nuvens, a velocidadde do vento, a queda das folhas...
    bjs

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  2. Não há idade para saborear a vida, mas quanto mais cedo se começar melhor... bonne apetit.

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