segunda-feira, 2 de abril de 2012

Post.it: Palavras que o vento não leva

Essas que guardo no peito. Essas que reservo para alguém que conquiste em mim o direito de as receber. Puras de sentimentos. Genuínas de afeição. Límpidas de bem-querer. Verdadeiras de sensações. Autênticas na estima.
Palavras que reservo para aquele momento, aquele que pode desenhar novos contornos nas linhas do destino. Um destino que vou escrevendo, rescrevendo, em rascunhos que amarroto e deito fora, esboços, que idealizo perfeitos na forma e no conteúdo. Palavras que vou imprimindo nas veias, que são transportadas pelos globos vermelhos, rubros de esperança até atingirem a meta de chegarem ao coração, para aí ficarem, na incubadora do tempo, a maturar, a crescer.
Por vezes espreitam pelos olhos, como se fossem crianças irrequietas, desejando sair desse refúgio, de saltarem para a rua, subir os ramos das árvores e tocar nas nuvens, ou mergulhar nas ondas deixando-se embalar por elas.
“Ainda é cedo” Diz-lhes o coração, num compasso murmurante, refreando o impulso apaixonado das palavras que almejam outras a si semelhantes, para partilharem a mesma ventura. “Ainda é cedo” Repete sempre cauteloso. É preciso aprender a esperar pela hora certa, pelo momento adequado, por outras palavras que as chamem de braços estendidos. Porque palavras destas nunca podem ser oferecidas, apenas trocadas por outras que as completem, para que não se percam no vento, para que não se transformem em lamento e numa data mais tarde, em esquecimento.
Um dia, sabe-se lá, em que estação do ano, em que folha do calendário, em que hora do relógio, tudo pode acontecer. Porque o tempo do sentir não se adequa ao tempo convencionado por regras civilizacionais.
Um dia, abrir-se-ão as portas de par em par e, as palavras voarão na direção certa. Porque essa direção existe algures entre muitos caminhos, entre muitos mares, rios, vales e montanhas. Só é preciso saber esperar pelas palavras que o vento não leva.
Quantos de nós andam de olhos fechados, para não revelar as palavras inquietas que por eles espreitam. Mas, “Ainda é cedo”, continuam a ouvir na voz contundente do coração.

10 comentários:

  1. Anónimo2.4.12

    Não as lendo aqui subentendo cada palavra. Sem as escutar, reconheci-as e apeteceu-me oferece-las à minha alma gémea (quando a encontrar) será que ainda me vou lembrar quais são? Beijinhos, Filomena

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  2. Anónimo2.4.12

    Quase vi essas palavras a espreitar pelos olhos como se fossem crianças irrequietas cheias de vontade de correr e brincar na rua. Depois o coração não o permitiu, amuaram, fizeram beicinho e foram fazer os tpcs da escola, quem sabe um dia lhes abram as portas para sair ou para outras palavras entrarem?

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  3. Anónimo2.4.12

    Quando leio as coisas que escreves apetecia-me guardá-las como máximas. Tais como estas palavras “Puras de sentimentos. Genuínas de afeição. Límpidas de bem-querer. Verdadeiras de sensações. Autênticas na estima.” Para com elas escrever o meu destino, para as imprimir nas veias e fazer com que cheguem ao coração. Beijos, Leonor

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  4. Anónimo2.4.12

    Um texto que mais uma vez surpreende pela sensibilidade da escrita. Pelo detalhe que nos faz perceber a importância das palavras ditas/sentidas na hora certa para que o vento não as leve nas asas do esquecimento. Um grande abraço, Antero

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  5. Anónimo2.4.12

    Como sempre tens assunto para escrever. Tens duas características que aprecio, escreves bem e colocas em palavras coisas que todos nós já sentimos mas não tivemos capacidade para expor desta forma tão bonita e concreta. Bjs. A.

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  6. Anónimo2.4.12

    Talvez seja cedo, mas também não podemos espera a vida inteira por essas palavras. Se demorarem muito quem sabe cheguem outras e conquistem as nossas?

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  7. Anónimo2.4.12

    Minha linda, sei de que palavras falas. Já as disse, já as ouvi, e o vento realmente não as levou porque tendo partido a pessoa permaneceram as palavras no fundo da memória. Beijocas, C.

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  8. Anónimo2.4.12

    Depois de ler este post.it fiquei a desejar que se soltem as palavras desse coração que há tanto tempo espera por resposta.

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  9. Anónimo2.4.12

    “Ainda é cedo”? Talvez para a razão mas nunca para o coração que não quer nem sabe esperar.

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  10. Anónimo2.4.12

    Foi muito bom ter neste início de semana chuvoso palavras que adivinhamos belas. Alberto F.

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