terça-feira, 17 de abril de 2012

Post: Em busca da perfeição

O rosto perdeu a expressividade, a solidão pesa-lhe nos ombros, as mãos desenham no ar linhas sem destino. É assim que se sente, um homem que não encontrou o seu caminho. Foi outrora um quase eremita, a ciência era a sua paixão, não pela carreira mas pela descoberta. – “Cuidei que era feliz. A vaidade é infinita”. É  a declaração que lhe invade a alma quando confrontado com a felicidade da sobrinha que se diz apaixonada. Sorri, relembra o seu percurso de vida. Fugiu de todos os casamentos ideais porque nenhum deles seria perfeito, usou com abundância essa desculpa vaidosa que o afastou do risco e da responsabilidade, que garantia tornar-se um dia infelicidade, refere como justificativa.
 Observa com nostálgica inveja a paixão da sobrinha, que ri e rodopia envolta em sonhos de amor. Fecha os olhos, suspira, pensa, no que daria para ter vivido um qualquer casamento imperfeito, mas feliz, pela vida inteira ou por um breve momento. Podia talvez, ter voado sem ter asas, num sonho de felicidade eterna ainda que efémera. O que não daria para ter o brilho que vê agora naqueles olhos cheios de sol que lhe vêm do coração, do amor e, que cresce em esperança dum futuro perfeito, ainda que saiba que a perfeição não existe.
 Ele, numa melancólica saudade, confessa que, nunca encontrou no seu amor, silenciando o que do fundo, bem lá do fundo lhe grita a verdade escondida, fugiu, fugiu sempre desse sentimento com medo do seu final. E que ao fugir dum possível fim, nunca viveu o seu início, nem a ventura do durante.
Na parede do escritório, vários diplomas surgem perfeitamente alinhados, outrora um orgulho, agora a sua tristeza. Quanto tempo perdeu em busca da perfeição. Quando a perfeição está no que se sente pela vida, pelo amor, pelos sonhos e até pelos despertares, se eles tiverem de acontecer... 

7 comentários:

  1. Anónimo17.4.12

    No teu estilo de escrita e de conteúdo marcado por uma mensagem. Aquela que sempre fica quando (te lemos) esperança, incentivo a que nunca se desista e também que não tenham medo de ser felizes mesmo que a felicidade dure (um minuto) da nossa vida. É sempre preferível senti-la, mesmo efémera do que recordar pelo resto da vida a nostalgia da sua ausência. Sandra B.

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  2. Anónimo17.4.12

    Uma história que serve de pano de fundo para deixar no ar o recado, sejam felizes, sempre que a felicidade vos bata à porta.

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  3. Anónimo17.4.12

    Gostei de ler este texto. Mais um retalho de vida. Conheço vidas assim, espero que eu não venha a fazer parte deste grupo. Tento estar atenta e abraçar cada oportunidade, grata por ela surgir.

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  4. Anónimo17.4.12

    A perfeição não existe? Pois eu acredito que sim. Há momentos perfeitos, de tão belos. Se é imperfeição que acabem, não importa porque nunca deixo de viver o durante há espera da perenidade desses momentos. Amália

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  5. Anónimo17.4.12

    Quantas pessoas não se identificaram com este texto? Muitas, tenho a certeza, menos aqueles que “silenciam o que do fundo, bem lá do fundo lhes grita a verdade escondida, fugiram, fugiram sempre desse sentimento com medo do seu final”.

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  6. Anónimo17.4.12

    É uma história que tem tendência para se repetir nos dias que correm. Cada vez mais se vive momentos efémeros quando ninguém tem (tempo) ou vontade para investir numa relação de futuro. Beijocas, C.

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  7. Anónimo17.4.12

    Alguém disse: "O ótimo é inimigo do bom". Quando não nos contentamos com menos do que a perfeição, muitas vezes acabamos sem ninguém. Porém, devemos procurar a perfeição, mas cada um em si próprio, para que possamos ser melhores e amar mais e melhor quem de nós se aproxima e nos confia os seus sonhos de felicidade. Perfeição será confiar-lhe também os nossos sonhos e construirmos juntos um sonho comum e o caminho para o alcançar.
    Este "momento de vida, em busca da perfeição" é uma obra prima de literatura e de sabedoria. Atrevo-me a dizer: perfeito!

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