sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Post.it: Interpretações do silêncio

“Liga-me, preciso de ouvir a tua voz, já estou cansada de sms telegráficos e de mails incipientes. Preciso de pelo menos ouvir a tua voz, para sentir o viajar de um pouco de calor humano a chegar-me através das linhas com ou sem fios. Estou cansada deste vazio com que presenteias o meu viver. Questiono-me que futuro estamos a construir nesta distância que nos separa cada vez mais. Mas depois leio aquelas letras pequeninas, que dizem que gostas de mim. Bebo-as com a sofreguidão de quem atravessa a secura de um deserto e se afoga numa única gota de água. Telefona-me, já nem sou capaz de pedir que apareças, que me permitas ver o teu olhar, de sentir o calor da tua pele. Por vezes dou por mim a pensar, que mal me lembro dos contornos do teu rosto, de repente adquires traços de um Clooney e a doçura dum B. Pitt. Que fazer, nós mulheres temos sonhos, modelos, ideais, quando aqueles que residem no nosso coração não o alimentam com conteúdos amorosos, perdemo-nos inevitavelmente nas aparências. Vamos, liga-me peço no silêncio do pensamento. Preciso de ouvir as palavras que leio, aquelas que escreves provavelmente à pressa, para despachar a missão de manter os sentimentos em lume brando. Quando eu tenho necessidade de me queimar para secar as lágrimas deste nosso eterno desencontro. Mas no fundo, ainda bem que não telefonas, não poderia esconder na voz as palavras embargadas de dor. Ainda bem que não apareces, já não preciso de arranjar o cabelo, pintar o rosto e desenhar para ti um sorriso que já não consegue aflorar nos lábios. Lembras-te ainda dos meus lábios? Dizias que eram bonitos, feitos para serem beijados. Se os visses agora, sem cor, sem beijos... Telefona-me, se quiseres, se puderes. Manda-me um mail reconfortante, ou uma sms curtinha, quem sabe, um olá?”
“Que dia infernal, quem me dera ter tempo para abrir o pc, e desabafar contigo, os meus problemas num longo mail. Mas não irias compreender, afinal um homem é um pilar não pode revelar a sua fraqueza. Por vezes apetecia-me ligar-te, mas nunca tenho as palavras doces que mereces ouvir, estou demasiado tenso pelos meus fracassos. Queria tanto estar contigo, abraçar-te  e ficar unicamente em silêncio, aconchegado nesse abraço. Sentir as tuas mãos a afagar-me os cabelos, sei que deixaria cair todas as barreiras e choraria alagando o teu regaço, mas um homem não chora! O que irias pensar de mim? Que saudade  tenho de te abraçar, de te beijar como se fosse um oásis neste meu deserto existencial, mas iria assustar-te  com a minha impetuosa paixão. Vou mandar-te um mail talvez não muito longo para não cair no erro de te aborrecer com os meus problemas. Talvez seja melhor escrever-te uma sms, quem sabe dar-te um olá?...”

12 comentários:

  1. Anónimo2.12.11

    Boa amiga, adorei, fartei-me de rir. Até porque conheço muitos casos destes. Que nós pensamos uma coisa e afinal não era nada disso. É bem verdade que nós, precisamos de dar visibilidade ao que sentimos e temos necessidade de reciprocidade. Para não se cair no erro de interpretar mal o silêncio, nada como o diálogo. Beijocas, C.

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  2. Anónimo2.12.11

    Adorei ler esta abordagem, revela entendimento, compreensão por duas dimensões, que são sobretudo sociais e culturais. Afinal não somos assim tão diferentes. O homem terá o lado racional mais desenvolvido, foi educado para ser assim, para ser um exemplo. A mulher perdesse nos detalhes, por vezes em demasiados pormenores. Mas a sociedade tem mudado e hoje essa diferença já não está tão acentuada. Sandra B.

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  3. Anónimo2.12.11

    Não sei se estarei aqui como voz discordante sobre a mentalidade masculina e feminina. A verdade é que aprecio o pensamento prático dos homens e aborrece-me grandemente a lamúria de muitas mulheres que só sabem queixar-se em vez de conquistar o seu espaço.

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  4. Anónimo2.12.11

    Gostei muito de ler este texto, tão claro dos silêncios de cada um. O nosso de (mulheres), um silêncio tão cheio de palavras construídas em forma de interrogação. O silêncio dos homens, parco de palavras, e talvez de pensamentos emotivos. São essencialmente racionais, pragmáticos, vão directos ao que interessa, (ao que lhes interessa), Bjs A.

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  5. Anónimo2.12.11

    Podemos ser dois mundos diferentes, mas não oposto, se houver mutua vontade são complementares. José

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  6. Anónimo2.12.11

    Com esta é que fiquei irremediavelmente conquistada pelas tuas palavras. Não que percebes do assunto? Não é novidade que tens opinião quase sempre certeira, mas conhecer os dois lados assim, é que é curioso e escrito aqui ficou um must. Vou enviar para o meu facebook para amigos e amigas, que têm muito que aprender contigo.

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  7. Anónimo2.12.11

    É que por vezes é mesmo assim, queremos que tenham connosco uma atitude mais completa e eles ficam-se pela rama e depois acham que fizeram tudo que disseram tudo o que havia para dizer. Muito giro, adorei!

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  8. Anónimo2.12.11

    Realmente a mulher é de Vénus e o homem é de Marte. Mas nem sempre devia ser assim, que tal um pouquinho de entendimento por cada um? Alberto F.

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  9. Anónimo2.12.11

    Uma surpresa agradável ver num blog retratado a característica mais delicada do homem. Retratada sem humilhação mas com reconhecimento de que muitas vezes um homem vive apenas de fachada. Porque acredita que a mulher não vai compreender a sua sensibilidade. O homem tem de proteger a sua dama e não mostrar que no fundo é apenas humano. Luís

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  10. Anónimo2.12.11

    Diz a ciência que o cérebro do homem tende mais para as ciências, para o raciocínio rápido e a mulher para as letras e para o raciocínio elaborado. Salvo raras excepções, salvo raras excepções. Dou graças por isso, que as mulheres sejam o caminho da perfeição que nós homens apenas esboçamos. Talvez da nossa cultura milenar, ou do factor biológico, a verdade é que se somos como somos é porque as mulheres assim nos fizeram. Somos educados sobretudo pela mãe. Uma mãe condescendente e depois por uma sociedade que só nos sabe apontar defeitos, pouco reconhecendo as qualidades. Gostei deste seu texto porque deixou aqui bem claro a delicadeza dos traços de cada um, feito de silêncios e de receios. Um grande abraço e nunca perca essa clareza e sensibilidade de ideias. Antero

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  11. Anónimo2.12.11

    Gostei deste texto, pela facilidade de descorrimento. Pela acessibilidade de entendimento. Deves perceber de mentalidades, tens uma subtilidade que aprecio numa mulher. Sei que não é fácil conviver com atitudes de pragmatismo. Mas são mulheres como tu que conseguem ser menos lamechas e entender a viva sem a complicar. Agradeço-te por isso. Fernando

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  12. Anónimo2.12.11

    Esta diferença entre mentalidade masculina e feminina não existe, as mulheres é que a fomentam para não entenderem as diferenças de atitudes entre seres humanos. Todos somos diferentes na nossa forma de perspectivar. Não devíamos estabelecer fronteiras mas elos de compreensão. J.

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