quarta-feira, 22 de maio de 2013

Post.it: Vemos muito (pouco)


Vemos, vemos muito, ou quase nada. Vemos essa luz que nos invade o despertar, que nos obriga a encarar o recomeço, essa paisagem de vidas que se cruzam com a nossa, vemos a cidade fervilhante de movimento e as árvores paradas à espera, talvez, do nosso olhar que poucas vezes a olha, só quando estacionamos o carro e tentamos não lhes bater para não riscarmos o nosso veículo.
Vemos, vemos muito, ou quase nada, desse mundo que amanhece para nós, que nos abre o caminho, que nos entardece, que nos adormece enquanto fica lá fora em serena vigília do nosso sono.
Temos uma vida demasiado presa a um ecrã: o computador, o televisor, o telemóvel, o ipad, o iphone, o dvd, as consolas de jogos. Vemos o universo plano, limitado às dimensões do plasma, do lcd. Imagens que mesmo surgindo a cores as sentimos a preto e branco na nossa quase indiferença pela forma como surgem.
Pouco vemos desse mundo táctil replecto de cheiros transportados pela mais leve brisa, o som dos pássaros que nos oferecem a sua alegria, o sabor acre e doce que nos invade as papilas gustativas sem que nos apercebamos verdadeiramente da sua textura, do seu conteúdo nutricional, apenas sabemos que nos alimenta o corpo, para que ele caminhe, para que ele sinta, para que ele veja.
Cegos de um olhar concreto, passamos por outros cegos que não nos sentem, que não nos tocam com um sorriso, com um momento de ver.
No entanto há pessoas, esperamos que muitas, de “corações limpos” que vêem todos os dias, mas em cada dia descobrem a beleza de ver como se fosse a primeira vez. Que pintam, que escrevem, que compõem músicas, formas de nos revelar esse mundo que nós perdidos no nosso universo individual continuamos olhar sem ver.