sexta-feira, 10 de maio de 2013

Post.it: A inércia dos dias


Já me cansa a inércia dos dias, porque nascem e findam sem serem meus. Não os possuo, não os conduzo, deixo-me levar por eles. Deixo-me navegar por eles sem saber onde vão dar. A que mar, a que terra, mas sigo na esperança de alcançar um lugar a que chamar meu e nele aconchegar a vida, e nele repousar os sonhos,  e nele afastar os medos, e a ele confiar o coração, e a ele entregar o perdão.
Já me atormenta esta apatia dos meses que não trazem mudança de vida, quando muito, trazem a mudança de estação e mesmo essa mostra-se confusa, quando fica sol no inverno e chove no verão, quando as flores tardam em florir e o frio em partir.
Já me devora este marasmo de vento que vai e volta com se não tivesse lugar especifico onde ir, como se rodopiasse à toa, como se fosse no oceano uma pequeniníssima canoa.
Fatiga esta indolência das horas que marcam num compasso rígido de medo cumprindo um ritual quase místico de seguir sempre ao mesmo ritmo para não se perder e ficar sem marcação, sem compasso, sem perceber qual é o seu espaço.
Já me enfada letargia dos anos, presentes que se desembrulham já sem criar expectativa, quase como se conhecêssemos o seu conteúdo.
Mas de repente a terra abana, um vulcão solta um grito da suas entranhas e o eco da montanha repete-o de uma forma uivante, então o mar acalma as suas ondas, desce de mansinho sobre o areal.
Um trovão junta-se ao apelo envia raios de luz para iluminar a escuridão de quem nela se deixou aprisionar. Uma árvore tomba e faz a ponte entre as margens para que não exista qualquer fronteira.
Por fim um silêncio, um silêncio diferente daquele que nos fatigava de rotina os sentidos. Os pássaros entoam uma melodia, o riacho acompanha numa entoação que não destoa e a canoa lança ancora num cais de abrigo. Uns braços erguem-se para a vida, para a esperança, para o recomeço, para o despertar do dia que venceu a inércia e renasceu.