quinta-feira, 23 de maio de 2013

Post.it: Ainda um dia tomaremos um café


“A vida é feita de encontros e desencontros” já dizia o genérico de um programa televisivo. De vidas que nos chegam, vidas que de nós partem, que existem nela de forma presente ou de forma ausente. Uma ausência que não parte de nós só porque os olhos não se cruzam, as vozes não ressoam no mesmo canal emissor, porque não aparecem no email, no facebook, em sms, no  skype, nem através de telepatia. Mas uma brisa da memória pode trazer-te de volta, e de repente estamos a questionar os neurónios sobre aquele perfume que nos tocou os alvéolos, aquela gargalhada que nos parece auditivamente conhecida, aquela frase que lhe era expressão habitual, aquele sorriso, idêntico que lhe dançava constante nos lábios.
Revolvemos os arquivos das lembranças, numa ânsia intemporal, e uma mágoa comprime-nos o sentido das emoções como de uma estranha orfandade se tratasse. Então numa quase surpresa que nos invade o peito vem sem se saber de onde um  longínquo suspiro ecoa o seu nome, ainda sem rosto  definido, ainda sem memória de momentos partilhados.  Mas ainda assim, invade-me uma saudade, uma vontade de voltar atrás, de retomar aquela estrada onde nos perdemos. No fundo é retomar do que eu fui, porque somos sempre um pouco o que os outros são, moldamo-nos, encaixamo-nos, embalamo-nos nessa forma que nos conforta. Quando há uma separação, um desencontro, há um laço que se corta, há um pouco de nós que se perde no outro e fica com ele até nos esquecer, nos apagar do seu passado sem nos levar para o seu futuro.
Levo a chávena de café aos lábios, sinto o seu aroma, o seu sabor amargo, porque, sim, continuo a gostar de café sem açúcar,  e lembro-me da tua última frase, “Ainda um dia tomaremos um café juntos”. Ainda não foi este, quem sabe o próximo…