segunda-feira, 6 de maio de 2013

Post.it: Um jardim sobre o mar


Estive lá, lá onde a terra cresce em direcção ao céu e o quer tocar, e o quer abraçar. As casas salpicam aqui e ali a encosta escarpada, agarradas firmemente à terra.
O coração quase nos salta do peito de susto, de temor pela sua obstinada tentativa de ai se fixarem matizando o verde de uma vida diferente, argamassa de terra, cimento e suor humano.
Estive lá, nessa ilha de profundos vales incrustados por entre os altos picos que acompanham toda a suave costa.
Estive lá, nesse  jardim flutuante de flores que ladeiam as estradas numa companhia para quem por elas sobe com esforço a ingreme montanha. No topo a floresta de Laurasilva que confere ao norte da ilha uma paisagem diferente é de uma admirável imensidade verdejante. E a viagem continua torneando as apertadas curvas onde um  rio contínuo de Levadas  nos acompanham cumprindo a sua missão de  transportarem as águas do norte mais húmido para o sul mais seco, numa generosa partilha desse bem tão essencial para a sobrevivência para que floresça o verde e humano.
Estive lá, nas “Terras do vento leste”, terra de sabores cruzados, de costumes, de lendas e de folclores.
Estive lá, não sei se lá regresso,  nunca sabemos os desígnios do destino, mas talvez nem precise de voltar, porque  trouxe essa ilha no recanto do olhar, no ar do peito que ali bebeu desse azul, tão imensamente azul de um mar que não existe em mais nenhum lugar.
A cultura, o carácter, o orgulho peninsular de quem ai quer nascer, crescer e permanecer, cruzar o oceano mas regressar porque esse é o seu lugar, essa ilha onde o coração desperta e adormece embalado pelo mar e protegido pelas montanhosas escarpas que se erguem para ficar mais perto do céu e do sonhar.
Estive lá, nesse “jardim sobre o mar onde se uma pétala caísse toda a ilha ficava triste”.