segunda-feira, 27 de maio de 2013

Post.it: Flores de solidão

Falamos tanto que nos esquecemos de ouvir. Deves ter coisas para me contar dos teus desertos, dos teus passos cansados, das páginas que viraste, das lembranças, do esquecimento. Porque tudo o resto já sei. Os sonhos que desenhaste nas nuvens e que nunca aterraram, “nem nos dias de nevoeiro”, dizias tentando gracejar.
Bem sei que te afoguei nas minhas teorias, e tu encolhias os ombros, incapaz de as refutar.
Percebias que era o furor da fugaz  adolescência, as primeiras pisadas na vida adulta. Quando eu achava que sabia tudo e tu dizias que não sabias nada, nem sequer para onde ir. A minha escolha estava feita, queria ser intelectual, “mas isso é lá profissão?! Rias com ternura perante a minha orgulhosa ingenuidade, “Sei lá, mas quero pensar, filosofar, emaranhar-me nas teorias e extrair delas a lógica das coisas”.
 Tu, fazias silêncio, não me contavas os teus planos. Pareciam-te demasiado simples perto dos meus, afinal, apenas querias ser feliz, encontrar a tua alma gémea e em conjunto rumarem placidamente em direcção a um  futuro perfeito. “Fantasias” clamava com jovial desprezo e tu baixavas os olhos envergonhada das tuas cálidas emoções.
Hoje sou eu que baixo os olhos com vergonha da minha altivez, bem sei que faz parte do crescimento, da necessidade de afirmação, mas não, não quero fazer disso uma explicação para me alhear da minha culpa, da minha indiferença. Hoje já não quero falar, percebi que sabia melhor ouvir, aprender sem julgar. Tenho saudades das tuas fantasias, tenho inveja da tua capacidade de acreditar e de construir. Porque tu construíste um lar, enquanto eu, semeei no horizonte flores de solidão.