terça-feira, 14 de maio de 2013

Post.it: Um encontro feliz


“A vida já não se faz de encontros”. Dizia num tom vazio enquanto o olhar rompia as nuvens cinzentas em busca dum sol que lhe aquecesse a alma.
“Qual alma, preciso é que o sol me aqueça os ossos, à noite já os sinto a ranger, juro que sim!” e nós riamos no nosso último sorriso de infância, porque é isso que somos, amigas de infância que nunca se perderam pelos meandros do caminho. “Claro que já estivemos distantes, que passámos "rores" de tempo sem nos vermos, mas lá posso passar sem os vossos disparates?”. “É verdade, a solidão já não existe, quando podemos estar junto das pessoas que gostamos, distância, o que é isso? 2 segundos de espera no skype e depois são 2 horas de “namoro”, de cusquices, transportam-nos o olhar através do pc, mostram-nos as vistas, a casa e até, com um pouco mais de paciência, o coração”.
“ A vida já não se faz de encontros”. Volta a repetir, na esperança de que alguém questione a afirmação. Faz-se um silêncio encorajador, a amizade faz-se destas pequenas coisas, não estamos lá muito voltadas para carpir dores, ou outras maleitas, mas “a amizade é um pouco como o casamento”, ‘na alegria e na tristeza, na saúde e na doença’, trocamos a fidelidade pela lealdade e o para sempre por cada momento. Claro que também há amor, sim, porque a amizade é a mais verdadeira forma de amor, sem os ditames alucinantes da paixão, nem a possessividade da monogamia.
“A vida já não se faz de encontros”, parece que não basta o silêncio para lhe dar coragem, é preciso que cada olhar pare no seu, num gesto de carinho, de aconchego, é então que  as palavras lhe brotam do peito numa torrente de rio. “Depois de tudo o que vivemos, o que conhecemos, já não há novidades, já não há a sensação “borboletas no estômago”, apenas a impressão de que é sempre uma repetição, de reencontro, e nas palavras que se dizem adivinhamos as que ficam por dizer”.
 “Mas isso parece-me ótimo, já não cansa andar a descobrir, já não há segredos, já não nos deixamos iludir, nem somos apanhadas à traição”. “E onde fica a história que se vai revelando, e onde fica o mistério, a surpresa?” Sem esperar resposta acrescenta.  “Sabem o que eu queria, mas queria mesmo? Esquecer o que aprendi, apagar as lições da vida, e voltar a sentir tudo como se fosse a primeira vez, sem estar a colocar sempre um entrave, uma barreira. Sem que a desconfiança marque fronteira, sem erguer as defesas em riste. Acreditar, mesmo que seja mentira.”
Olhámos para nós, para dentro de nós, procurámo-nos, onde estava aquela menina que corria pelas veredas da Primavera, que ria, que sonhava, que acreditava e acreditando era feliz. Não demos conta quando ela se desvaneceu. Mas no fundo, bem lá no fundo, sentimos que ela existe, que só precisa do momento certo para despontar. Porque afinal ainda acreditamos num encontro feliz com a vida, algures entre o sonho e a madrugada...