sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Post.it: 101 anos de solidão

Observo-lhe as mãos aconchegadas sobre o colo. Imagino-lhe carícias repartidas, mas o seu olhar melancólico, nega-me esta conclusão e responde-me num sorriso já livre de mágoas…  “Se tu conhecesses os meus 101 anos de solidão…”
 Não conheço o seu passado mas consigo concebe-lo através das suas palavras e dos seus silêncios…
“Por todas as primaveras que nunca chegaram a florir. Por todos os invernos sem o calor dum abraço. Por todos os caminhos percorridos sempre com a presença única dos meus passos. Por todas as noites em que tive por exclusiva companhia as estrelas a luzir na imensidão do céu. Por todos os despertares em que só a voz que chamava por mim era a do locutor da rádio. Por todas as emoções que guardei para te oferecer. Por todas as palavras que me murcharam no peito sem ter a quem as presentear. Por todas as ondas que me embalaram a espera desse navio de esperança que não vinha acostar no meu cais.
 Não, não me ofereçam esse lampejo de pena, claro que amei, nuvens que continuamente partiam. Claro que fui amada como uma princesa no seu castelo de areia cujas vagas de mar desfizeram.
Mas o tempo passa e, na sua viagem por caminhos que nem sempre foram aqueles que desejaria seguir deixou-me repleta de ausências.
Hoje, neste encontro comigo, descubro por fim que, o amor, não és tu. Que o amor sou eu, terra e semente a desabrochar, a florir. Descubro-me no prazer da minha companhia, nas minhas tristezas e alegrias. Nos meus sonhos, nas minhas concretizações e fracassos.
Encontro-me na harmonia dos meus passos, enquanto vou saboreando o caminho na firmeza, na certeza do rumo. Já não me procuro em ti porque finalmente, depois de todos os anos de solidão que me deixaste, encontrei-me. Descobri-me na minha paz, na minha felicidade, já sem a tua saudade”.

9 comentários:

  1. Anónimo10.2.12

    Lindo, lindo amiga, que mais dizer? Desta história de vida? Senti-la no coração. Bjs A.

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  2. Anónimo10.2.12

    Quase que repetia estas palavras, na sensação de que tudo foi uma nuvem passageira. No entanto olho o céu e vejo tantas mais, alguma ainda há-de parar e ficar por muito tempo. Alberto F.

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  3. Anónimo10.2.12

    Bonita esta história, será a minha, para lá caminho, vou a meio, e só desejo. Chagar um dia a esta conclusão, que a minha companhia é a melhor. Amália

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  4. Anónimo10.2.12

    Adorei esta versão mais realista de 100 anos de solidão. Lamento que existam vidas assim, mas certamente que como dizes, reencontram o sentido de viver.

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  5. Anónimo10.2.12

    Depois de 100 anos de solidão, só mesmo 101. Uma versão que não fica nada a perder em relação à outra. Na sua síntese talvez mais bonita ainda. Lê-se num ápice e leva-se o resto do dia a reflectir e a desejar que não nos suceda o mesmo.

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  6. Anónimo10.2.12

    Sabes o que mais gosto em ti? A grandeza do teu coração que transparece em tudo o que escreves. Dizias que há pessoas que apesar de tudo não te conhecem mesmo depois do que lhes escreves. Minha querida, certamente estão “cegas”. Porque tu és a pessoa mais clara que eu conheço. Beijinhos F.

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  7. Anónimo10.2.12

    Adorei vou partilhar no meu facebook. As tuas histórias, mesmo que não sejam vividas, são certamente muito sentida.

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  8. Anónimo10.2.12

    Gosto muito do que escreves. Mas isso já tu sabes. Quanto a estes 101 de solidão, deixaram-me a pensar. Não quero sentir o mesmo, nem que mais tarde conclua que a minha é a melhor companhia. Detesto a solidão nem que seja por 101 minutos. Leonor

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  9. Anónimo10.2.12

    Nunca deixes de escrever este pedacinhos que vida, que encaixam por vezes na nossa. Retalhos que nos mostram que nem tudo tem que ser negativo, nem sequer os 101 anos de solidão.

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