sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Post.it: Final de Ano

Onde vou passar este final de ano? Talvez a descansar o olhar no mar. Deixar a alma navegar. Deixar que o rumo me escolha, porque o caminho, esse, está cansado de escolher, sem acolher o sentido recíproco do que sente. Lemas ou dilemas, é tempo de libertar no vento o último lamento e deixar espaço no coração para que surja a oferta dum início, que pode vir na promessa de um Ano Novo que se anuncia sem mácula. Um ano inteiro de expectativas. 12 meses para vencer as batalhas do existir. 366 dias de possibilidades para conquistar o almejado desejo. 8784 horas de sonhos que nos fazem despertar com vontade de os realizar. 525600 minutos que nos oferecem a oportunidade de voar no pensamento e aterrar na ternura do sentimento. Milhões de segundos que sem pressa nos convidam:
“A ser vida, sol e mar.
Estrela, arco-íris e luar”.
Perdoem-me se a minha matemática não estiver exacta. Mas nada é exponencialmente exacto, guardemos, apenas a ideia deste imenso tempo que nos é revelado como um percurso de vida. E se nem tudo correr a 100% como desejaríamos, não devemos desistir no primeiro obstáculo que se nos depara, afinal, temos ainda muitos meses, dias, horas, minutos e segundos para aprendermos a ser felizes.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Post.it: Tempo de balanços

Há momentos em que todos nós fazemos o balanço dos dias, dos meses, dos anos, de isto ou daquilo. Momentos em que decidimos arrumar as gavetas do pensamento, as prateleiras do sentir. Momentos em que questionamos cada passo dado e todos os outros que ficaram por dar. Em que duvidamos do rumo que o futuro nos indicia. Cada um fará a sua análise mais ou menos profunda. Cada um valorizará de diferente forma os acontecimentos com que se deparou. Nessa fronteira entre o que  fomos  e o que pretendíamos ser.  Teremos alcançado os nossos objectivos? Teremos falhado nos nossos planos? Concluímos necessariamente que nem tudo foi sucesso. Nem poderia ser, porque colocámos a fasquia das nossas ambições demasiado alta. Mas houve pequenas vitórias. É para elas que devemos dirigir a nossa atenção. É com elas que devemos aprender a conhecer os limites da nossa dimensão humana. E na próxima vez que delinearmos uma lista de desejos, vamos ser mais humildes nos desejos para que no final os alcancemos todos.
 “Se no final do ano as recordações não te trouxerem uma lágrima de tristeza ou de alegria, então, foi um ano vivido em vão. Porque a alegria faz-te compreender a tristeza. E a tristeza faz-te lutar chegar à alegria”.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Post.it: Eclipses solares

Há pessoas que são um sol de tão positivas, de tão radiantes perante a vida e na superação das suas adversidades. São um sol, por verem um pequeno raio de luz em cada túnel que temos que atravessar. Permanecem um sol mesmo quando as nuvens de inverno o encobrem na sua densidade de lágrimas.
No entanto há outras pessoas que são a lua, na sua penumbra sempre hesitante, sempre perscrutando nessa quase escuridão algum obstáculo, duvidando que ele não exista mesmo quando não o encontram. O seu olhar esconde-se nessa fase lunar sem se deixar iluminar pelo sol dos outros, sem se deixar aquecer pelo seu calor, sem se permitir a recepção de um abraço de esperança. E por mais que a languidez da lua queira inibir o fulgor do astro rei, o calor deste derrete-lhe o esplendor dos seus argumentos, desarma-o com a ternura do seu sorriso. Contudo há momentos em que o próprio sol duvida da vitória perante a obstinação, a acutilação das palavras, a amargura das expressões lunares. E de repente a natureza enuncia-nos o sentido destes desencontros. Talvez o sol e a lua tenham que existir em vidas opostas e, só em pequenos momentos conheçam alguma consonância de sentimentos e aconteça a singularidade celeste do eclipse solar ou lunar.
Por mais que goste da lua, quando o seu luar me acalenta as noites. Por mais que aprecie a beleza dos eclipses, não deixo de pensar nos que permanecem do outro lado da lua, que desenvolvem a aridez do sentir, que permitem que a escuridão os invada e não aceitam nem um raio de sol para iluminar o rumo da sua existência. E atrevo-me e sonhar com a hipótese: Quem sabe no próximo eclipse, o sol prenda definitivamente a lua no seu abraço…

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Post.it: Abraços grátis

Outro dia cruzei-me com um grupo de jovens que oferecia abraços grátis. Sorriu-me o peito celebrando a iniciativa.
Por momentos pensei, estarão eles carentes de afectos? Estaremos nós necessitados de abraços?
Sem dúvida que o gesto encerrava também outra mensagem que desejavam passar. Que num mundo dominado pelo materialismo, há presentes, gestos, que não têm preço, que dinheiro algum os pode pagar. Que há ofertas que não se podem embrulhar, porque são demasiado grandiosas e papel algum as cobriria, caixa alguma as condicionaria.
Mas a verdade, é que estamos carentes de gestos, de atitudes desprendidas, de corações que sejam portas abertas a um convite de afeição, de atenciosos cuidados. A verdade é que andamos de braços cruzados com receio de os estender ao outro. Entregamo-nos facilmente ao comodismo de relações descomprometidas, porque nos parece ser mais fácil ficar sentado, frente ao computador, “conversando” horas infinitas com alguém que verdadeiramente não conhecemos e que não nos conhece, que não sente a nossa mágoa, o nosso calor humano. Porque a tecnologia, embora já permita enviar som e imagem em tempo real,  ainda não consegue deixar passar através dos cabos de fibra óptica o calor da vida a correr-nos nas veias. Desconhece quem está do outro lado, o nosso percurso, por vezes sereno dessa existência, mas desconhece igualmente, os momentos em que no peito nos dilacera um vazio crescente. Porque se é verdade que nos escudamos de laços afectivos e se já não temos de partilhar abraços, o contrário também acontece, porque não os recebemos, porque os sentimos ausentes de nós.
Felizmente ainda há quem nos ofereça abraços grátis, laços cada vez mais ténues duma sociedade que nos distancia e torna pequenas ilhas de cibernautas.
Espero, acima de tudo, que nunca se esgotem os abraços grátis. 
Eu tenho muitos para vos oferecer.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Post.it: O Natal já lá vai...

Gosto do Natal, da sua antevisão, da expectativa, da espera, dos projectos, das esperanças, dos desejos que silenciamos e de todos os outros que oferecemos com o ânimo de aquecer os corações amigos. Gosto do Natal no inverno, de ver as nuvens de palavras que saem das bocas num ramalhete de desejos que, quem sabe num destes natais se concretizem. Gosto do cheiro a madeira a arder nas lareiras que aquecem lares, e as famílias que se reúnem à sua volta, partilhando, histórias, lembranças de anteriores natais ou quem sabe de futuros. Gosto do nevoeiro da noite de Natal que nos convida a mergulhar nele sem medo, para descobrir os seus mais bonitos segredos. Gosto da solidariedade que estreita os abraços. A comunhão de sentimentos que se partilham sem avareza. Gosto da manhã de Natal, quando o sol exibe o seu mais belo sorriso e, nos oferece a paisagem ideal para um passeio pela frescura do dia acabado de nascer. Gosto do Natal quando os meus sentidos são embalados pela sua melancolia que me leva a supor eterna a temporalidade desta quadra.
De repente, o dia seguinte. Sinto-me arrancada desse torpor, que me rouba a nostalgia do sorriso que ainda me emoldura o rosto. Tenha uma certa dificuldade em encarar de novo a rotina. Talvez seja da minha costela alentejana, porém, são os genes sociais que imperam na esgrima de argumentos, nesta cidade que nos molda a vontade, nestas  artérias enfeitadas de veículos que paciente ou impacientemente nos conduzem de volta à realidade da nossa vida, dos nossos dias, já sem Natal.
Porém, o coração ainda sente o teu embalo, e envia-te não uma despedida mas suspiro de saudade, até para o ano, Natal…

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Post.it: Quadro de Natal

Se eu soubesse pintar, faria uma pintura de Natal com todas as cores de um arco-íris, feito de mãos unidas numa corrente de amor. Pintaria sorrisos inocentes nos rostos cansados. Desenharia crianças sentadas no chão, rodeadas de prendas coloridas à espera de serem desvendadas. Colocaria um pinheiro verde no centro da sala para que todos o vissem e nele deixassem pendurados, recados de esperança. Junto ao presépio, os avós abraçariam os netos e contar-lhes-iam a história do Menino Jesus, como já o tinham feito noutros tempos aos seus filhos.
Enquanto isso, lá fora, um anjo debruçava-se sobre a janela e as suas asas agitavam-se de alegria por sentir que tinha cumprido a sua missão de trazer paz e felicidade a cada lar, nessa noite de Natal.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Post.it: Senti um Natal

Senti um Natal, há muito tempo, ou talvez não, a saudade marca um tempo diferente do relógio. Um tempo humano que nos bate descompassado dentro do peito.
Senti um Natal como se fosse o presente de uma vida. De tão esperado, de tão desejado, de tão esperançado. Um presente que vi nos seus olhos, que recebi do seu abraço. Senti um Natal tornado caminho no rumo, que desejávamos fosse a felicidade.
Senti um Natal com o sentir repleto de carinho. O coração ofereceu-o com a gentileza de uma flor cuja haste se sublima ao vento e partilha com ele o seu perfume de pétalas.
Nesse ano, recebi outros presentes que me tocaram a alma, mas se tivesse que escolher entre todos os que recebi ou mesmo entre toda a riqueza existente no mundo, escolheria tão somente, a sua mão, para a aquecer na minha…

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Post.it: O Natal da minha vida

Houve um Natal, muitos diriam, que foi apenas um, para mim, foi um que se perpetuou no coração e na memória pela infinitude de todos os outros. Sobrepondo-se aos de antes e valorizando os que vieram depois. Houve um Natal que, em pleno inverno, o sol sorriu mais do que no Verão. Em que as flores anteciparam a Primavera e ofereceram-nos um jardim de esperança. Um Natal em que vi o presépio acontecer, quando todos à volta da vida, sentiram e partilharam momentos de amor. Nessa noite, as estrelas iluminaram com mais brilho o manto escuro do céu e as vozes calaram todas a mágoas, discussões, cansaços e soaram a cânticos que embalaram cada coração. Quando por fim encontraram a harmonia de um mesmo compasso. Nesse Natal, vislumbrei o futuro no sorriso de cada criança, de cada homem e de cada mulher que uniram as suas mãos a outras, para seguirem juntos pela mesma estrada.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Post.it: História de um happy end

Ouço a tua história, sinto-a igual à minha. Sofrida, magoada, feita de entregas. De sonhos que nunca se concretizam. Percursos paralelos que não se chegam a cruzar. Falamos das mesmas dores, de similares amores. Calamos por fim as palavras, já não são necessárias. São a repetição da tua, da minha existência. Sorrimos, enquanto o pensamento questiona o momento, talvez seja uma armadilha, pensamos... Recuamos, mas de novo encaramos o mútuo olhar, não, há demasiada verdade no teu rosto. Há demasiada tristeza no meu. Já não sei se queres prosseguir, já não sei se quero admitir perante ti a minha fragilidade, carente de harmonia.
Hesito, hesitas e partimos, como chegámos, com a alma vazia, o coração dolorido. Meto as mãos nos bolsos, estão vazios, tal como o meu sentido de vida. Meto as mãos nos bolsos simplesmente porque não tenho outras mãos que queiram as minhas preencher. Paro, viro-me, quero ver-te a desvanecer no horizonte. Já fiz das partidas um hábito, é mais uma, penso. Fico suspensa, também paraste, olhas-me como se me chamasses…
E agora que nos espera?
Um, Happy End?
Se é um final, nunca poderá ser feliz, e o “foram felizes para sempre”, já não nos convence.
Por agora basta-nos que seja um começo.
Um, Happy new beginning.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Post.it: A ternura dos quarenta

“A riqueza depois dos 40...” Numa curiosa citação. "Nunca pensei que a partir dos 40 pudéssemos ter uma riqueza tão grande!!! Prata nos cabelos. Ouro nos dentes. Pedras nos rins. Açúcar no sangue. Chumbo nos ossos. Ferro nas articulações…”
Li isto algures, esbocei um sorriso, esqueceram-se de dizer que temos ouro no coração. Sim é verdade, ouro, esse material precioso que levamos anos a guardar para construir o nosso tesouro de memórias. Mas sendo de ouro é igualmente moldável, adaptando-se generosamente àquele outro coração que tão bem se conjuga com o nosso. Já sem os fulgores da Primavera, cheia de flores mas também de muitos espinhos. Já sem os arroubos das tardes de Verão, salpicados de mar mas também sem lágrimas de inquietação. Repletos de cor mas também de ansiedade, de desassossego por medo de perder esse sentimento que nos extasia e aniquila na sua intensidade. Chegamos à ternura dos quarenta, a esse encanto de Outono, apaziguado, feito de partilha, de estabilidade, de imenso carinho. Aprendemos finalmente que o amor é um barco que descendo o rio nos leva por viagens infinitas de afeição…

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Post.it: I need you now

Agora que o coração entardece,  nas  horas  anelantes dum suspiro.
Agora que o sono não me adormece, na espera que desespera o existir.
Agora que Inverno me anoitece, mas o olhar te procura na bruma do horizonte
Agora que a memória me esquece, sem nunca te esquecer.
Porque busco em ti o sentido, que a vida nunca teve no desenhar do caminho
Num destino que não é nosso, mesmo quando o escrevemos com linhas de luar.
E sinto o sonhar desvanecido, em anos dum tempo que o peito aconchegou.
Num querer, que querer já não posso, viver assim, neste precipício de mim.
Preciso de ti enquanto é tempo, de aprisionar o último alento do nosso sol
Mas o tempo já faz a nossa história, páginas em branco que é preciso escrever.
Antes que sejam asas de vento, na derradeira tentativa de tocar o infinito.
Morrendo sem ânimo nem glória. Sem a coragem de ir mais além do ser.
Preciso de ti enquanto me és, fôlego, riso de Primavera que nos faltou cumprir.
Encanto dum mar navegante, onde fui navio em terra sem a ternura das tuas águas.
Feitiço de tão doces marés, que somente vislumbrei no meu eterno devanear.
Meu ser é de ti, eterno expectante, que apenas beijei na orla da tua brisa.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Post.it: Essencialmente mulher

A sociedade mudou, ou melhor tem vindo a mudar. Para uns, demasiado depressa, para outros de uma forma demasiado lenta. Sem dúvida que demorou muito tempo para a nossa noção de temporalidade, pouco, muito pouco para a história da civilização. A que se deveu esta grande e radical alteração? Às mulheres, sim a elas, que têm sido a estrutura do universo. Mulheres, mães e esposas. Mulheres que conjugaram os filhos, o lar e a carreira. Mas o que levou as mulheres a arregaçar as mangas e a trabalhar lado a lado com os homens? A necessidade de independência económica? O desejo de darem aos seus filhos, um futuro melhor? Há quem diga que a grande revolução das mulheres começou com os electrodomésticos, que vieram facilitar as tarefas domésticas e libertar tempo para outras actividades. Os homens, mais aguerridos no seu machismo, dizem que a culpa é das telenovelas, que vieram abrir uma imensa janela à discussão de muitos assuntos que até então as mulheres tinham silenciado. Os políticos referem que a grande causa foi o 25 de Abril que forneceu às mulheres uma arma muito valiosa: A liberdade.
A verdade é que a sociedade mudou, que a mulher mudou e mudou essa sociedade. Hoje a mulher reivindica o direito à felicidade, esteja ela onde estiver, no casamento ou no términos dele. Em pessoas diferentes ou a si semelhantes.
Porque na verdade, a maior e verdadeira causa da emancipação da mulher, foi o Amor. Chamem-me romântica, idealista, sonhadora, lutadora, realista. Chamem-me o que quiserem, porque sou essencialmente Mulher.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Post.it: A ventura de te encontrar

Sempre, Hoje, Eternamente (SHE). Poderia ser o teu login, tem um sentido de infinito, tem direcção de caminho imenso, interminável, mas agradável na antecipação da meta.
Tem o que procuramos sem encontrar, porque não se encontra, o que não se constrói, com traços de persistência. Com esboços desenhados na alma, moldados no coração. Mas é também Ela, aquela que dá sentido à nossa existência, que vivenciamos numa espécie de missão que vem do passado mais ou menos longínquo, que nos condiciona o presente e se prolonga em cada minuto do futuro. Que sentimos por vezes como um fracasso, quando a experimentamos tão longe, demasiado longe, quase impossível de alcançarmos. Encontramo-la, reflectida em outras vidas, em sorrisos luminosos que não nos são dirigidos, em abraços que já estão preenchidos por outros braços. Questionamos na nossa existência, porque é que ela existe para uns e não para outros? Como escolhe ela os que a vão receber no âmago do seu ser e outros permanecem  indefinidamente à espera que chegue a sua vez. O que fazer? Com que armas lutar? Que destino seguir para ir ao seu encontro? Onde está ela? Porque se esconde, dos que mais a procuram? Daqueles que vivem no deserto da sua ausência, sem um oásis que de quando em vez, os faça vislumbrar um pouco da sua presença, num rasto de infinitude, de passos sobre a areia que o mar teima em apagar. Mas encontrá-la é, repetir constantemente SHE num grito humanamente imperceptível que só o coração pode escutar quando chama por ti, Felicidade.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Não sei se existes

Não sei se existes,
Ou se te criou o coração.
Nas suas horas tristes,
Ou na minha solidão.

Só sei que o amor
Veio e desabrochou.
Como se fosse uma flor,
Que um dia me encantou.

Desde que te vi,
E em cada momento.
Vivo a chamar por ti,
Nas asas do vento.

Porque não vens?
Gritam os sonhos perdidos.
Porque não tens?
Este amor nos teus sentidos.

Não sei se existes,
Preciso sentir que sim.
E que nasceste,
Para fazer parte de mim.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Post.it: Presépios de vida

Aproximamo-nos do Natal, e o Presépio volta a ser construído nas ruas ou nas nossas casas. Mas quando o tema é o  Presépio, de imediato a nossa lembrança cultural navega para aquele que aconteceu há mais de 2000 anos e, que é contado todos os anos de uma forma renovada. Em presépios de esplendorosa arte. Presépios que entrelaçam a sensibilidade artística, com a liga de ouro, prata, marfim, pedra, madeira ou cristal. Mas há outros, que nos deixam sentimentos diferentes, não de adoração, mas de espanto e ternura. Presépios que acontecem numa ambulância a caminho do hospital mais próximo. Mas também é presépio aquela cabana ou barraca por onde entram a chuva e o vento. É presépio a rua, o beco sombrio, onde uma mãe abandonada, sem-abrigo e sem tecto, dá à vida um novo ser, sem lhe adivinhar um futuro promissor. Foi presépio o caixote do lixo onde uma vida recém-nascida é encontrada e, por um novo amor cuidada. É presépio um barco que encoberto na penumbra noite, tenta passar a fronteira no sonho de dar aos seus filhos um vislumbramento de felicidade. É presépio aquela cela de prisão onde a vida nasce já aprisionada por um crime que não cometeu.
Tantos e tantos presépios que acontecem a cada instante da história, presépios onde, sem meios e sem aconchego, recebem em amor, a única oferta que o maternal coração lhes pode dar. Sejamos presépio, não só agora que se aproxima o Natal, mas sempre que uma vida precise do nosso apoio para crescer e ser feliz.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Post.it: O vale dos lençóis

É o lugar onde repousa o amor. Um amor que “é grande e cabe na cama e no colchão de amar”. Mas demasiadas vezes descansam nela apenas a dor silenciada, confessada ao travesseiro. Ela que também é o local onde navegam os sonhos. Onde se fazem e desfazem as nossas guerras intimas. Onde adormece o cansaço de uma vida de rotinas entre maratonas ao ritmo de um relógio que sempre nos ultrapassa e vence a corrida. Muitas vezes o ninho onde o corpo se aconchega para “descansar a medula”. Um vale de lençóis em reboliço de vento que entra pela janela sempre aberta, na esperança que uma estrela entre por ela para anunciar a felicidade. Aconchegados, amparados dos medos, fechamos os olhos e voamos na nossa cama mágica, por lugares onde os impossíveis conseguem ser possíveis. Nessa cama de conforto, onde a vida dorme tranquila até ao amanhecer. Essa cama, por vezes nuvem, que nos transporta para um universo de esperança, um paraíso que por vezes, quase, quase alcançamos, porque a luz do dia nos arranca demasiado cedo a essa possibilidade. Mas todas as noites envolto num manto de escuridão, o corpo entrega-se sem reservas ao calor desse leito que o reconforta e lhe permite sonhar, por breves momentos de olhos abertos, “quem sabe amanhã tudo corre melhor”, diz o suspiro que parte transportado  nas  asas do sono, porta de entrada para o universo dos possíveis. 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Post.it: Perder a esperança para ser feliz

“Perdi a esperança e fiquei mais feliz” Ouvi esta frase num anúncio de rádio. De imediato pareceu-me contraditório. Como pode ser feliz quem perde a esperança? Mas de que esperança se fala aqui? Daquela que se cumpre numa promessa de mudança tantas vezes anunciada mas nunca cumprida? Aquela que nos enleia na sua teia de perdões, de vicissitudes que nos rouba a cada momento a capacidade de vislumbrar uma luz de verdade, de sentido, lá bem no fundo do túnel? Um túnel que se torna cada vez mais longo, cada vez mais escuro. Mas também a esperança de recuperar o que somos, o que temos direito a ser, sem nos alienarem, sem nos furtarem a especificidade e o respeito de ser humano. Porque na maior parte das vezes sentimos um desânimo, como se nos tivessem sugado toda a energia, toda a vontade. Resta-nos a esperança de que tudo pare: o tempo, o momento, a dor, a revolta, o medo. Uma esperança já não dirigida ao outro mas a nós, num resquício de força, ressurge um laivo de coragem que nos impulsiona a agir, para colocar um ponto final, um stop irredutível. Mas a esperança, essa famigerada fantasia, que nos leva a acreditar, envolve-nos no seu redil de desculpas, de argumentos que nos confundem os pensamentos, que nos levam a questionar as prioridades: o amor, os filhos, o lar, a felicidade que nos parece cada vez mais longínqua. Só conseguimos ouvir uma voz que se confunde com a nossa, que se impõe aparentemente conciliadora e nos afirma, numa promessa vã, que agora vai ser diferente. Começamos a sonhar com essa possibilidade, a desejar que tudo tenha sido apenas um pesadelo, que vamos acordar e verificar que a realidade é muito melhor. Entretanto vamos desculpando, sem perdoar. Porque ninguém perdoa, a injustiça, a mágoa sem sentido. Vamos encontrando outro culpado para não apontar a quem de dever: o álcool, o insucesso profissional, a revolta, o desabafo, o impulso, os ciúmes, o gostar de uma forma desmedida. Mas tudo isto pode resumir-se a algumas palavras: covardia, demência, ou outras similares. Porque amar nunca pode ser sinónimo de magoar, de ultrajar, de matar. Amar de uma forma saudável é sempre, cuidar. Resta a decisão, difícil de tomar mas cada vez mais urgente, o dizer, basta! Temos que a tomar, mas ela afoga-nos no medo mas salva-nos pela coragem. Porque só perdendo a esperança é que se pode voltar a ser feliz, tal como refere o anúncio sobre violência doméstica. É preciso colocar-lhe um fim, é preciso perder a esperança, é preciso ser feliz!...

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Post.it: Interpretações do silêncio

“Liga-me, preciso de ouvir a tua voz, já estou cansada de sms telegráficos e de mails incipientes. Preciso de pelo menos ouvir a tua voz, para sentir o viajar de um pouco de calor humano a chegar-me através das linhas com ou sem fios. Estou cansada deste vazio com que presenteias o meu viver. Questiono-me que futuro estamos a construir nesta distância que nos separa cada vez mais. Mas depois leio aquelas letras pequeninas, que dizem que gostas de mim. Bebo-as com a sofreguidão de quem atravessa a secura de um deserto e se afoga numa única gota de água. Telefona-me, já nem sou capaz de pedir que apareças, que me permitas ver o teu olhar, de sentir o calor da tua pele. Por vezes dou por mim a pensar, que mal me lembro dos contornos do teu rosto, de repente adquires traços de um Clooney e a doçura dum B. Pitt. Que fazer, nós mulheres temos sonhos, modelos, ideais, quando aqueles que residem no nosso coração não o alimentam com conteúdos amorosos, perdemo-nos inevitavelmente nas aparências. Vamos, liga-me peço no silêncio do pensamento. Preciso de ouvir as palavras que leio, aquelas que escreves provavelmente à pressa, para despachar a missão de manter os sentimentos em lume brando. Quando eu tenho necessidade de me queimar para secar as lágrimas deste nosso eterno desencontro. Mas no fundo, ainda bem que não telefonas, não poderia esconder na voz as palavras embargadas de dor. Ainda bem que não apareces, já não preciso de arranjar o cabelo, pintar o rosto e desenhar para ti um sorriso que já não consegue aflorar nos lábios. Lembras-te ainda dos meus lábios? Dizias que eram bonitos, feitos para serem beijados. Se os visses agora, sem cor, sem beijos... Telefona-me, se quiseres, se puderes. Manda-me um mail reconfortante, ou uma sms curtinha, quem sabe, um olá?”
“Que dia infernal, quem me dera ter tempo para abrir o pc, e desabafar contigo, os meus problemas num longo mail. Mas não irias compreender, afinal um homem é um pilar não pode revelar a sua fraqueza. Por vezes apetecia-me ligar-te, mas nunca tenho as palavras doces que mereces ouvir, estou demasiado tenso pelos meus fracassos. Queria tanto estar contigo, abraçar-te  e ficar unicamente em silêncio, aconchegado nesse abraço. Sentir as tuas mãos a afagar-me os cabelos, sei que deixaria cair todas as barreiras e choraria alagando o teu regaço, mas um homem não chora! O que irias pensar de mim? Que saudade  tenho de te abraçar, de te beijar como se fosse um oásis neste meu deserto existencial, mas iria assustar-te  com a minha impetuosa paixão. Vou mandar-te um mail talvez não muito longo para não cair no erro de te aborrecer com os meus problemas. Talvez seja melhor escrever-te uma sms, quem sabe dar-te um olá?...”