quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Post.it. Maria Mar

Podia ser este o seu nome, cresceu no embalo das ondas entre os abraços do mar e a areia da praia. Tinha uns olhos de céu e um sorriso luminoso. Era feliz a Maria, mas foi mais feliz no dia em que lhe ofereceram uma prancha de surf. Agora sim podia voar nas ondas, agora sim podia percorrê-las em toda a sua extensão, perceber o mistério da sua densidade e acariciar-lhes o corpo de água.
Era feliz a Maria Mar, mas foi ainda mais feliz quando reconheceram que surfava tão bem como uma sereia nadava no mar.
Era feliz a Maria Mar, conhecia os ventos e as marés, o oceano não tinha segredos para si, ou talvez tivesse. Descobriu-o da pior forma, que o seu grande segredo era a exigência de respeito.
Maria Mar desafiou o mar e perdeu, perdeu quase tudo restando-lhe apenas um fio de vida.
Por dias, meses e anos, criou o seu mar, também ele salgado, também ele solitário.
Até ao dia em que abriu a janela do seu quarto e o reencontrou. O mar permanecia sereno, anelante, quase silencioso, com receio de a perturbar. Agitou-se ao vê-la, que saudades daquela ninfa, de a sentir, de ver o seu espírito de rebeldia e o  seu riso cristalino. Então cresceu no seu alento e da maior calmaria criou a maior onda que todo o mar já vira e depositou-a com doçura na beira da sua janela. Maria Mar pensou por momentos que estava de novo a chorar, ao sentir deslizar do seu rosto gotas de água, depois percebeu que não eram lágrimas mas ternos beijos que o mar lhe oferecia. Maria Mar descobriu novos motivos para se sentir feliz.

7 comentários:

  1. Anónimo3.8.11

    É lindo este post, que nos diz que quando se fecha uma porta há sempre uma janela para ser aberta. Rui

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  2. Anónimo3.8.11

    As vidas existem, as histórias repetem-se, entre risos e lágrimas, mas o que as torna verdadeiramente especiais é o quadro envolvente, aquele que você consegue descrever, numa pintura quase naif. Basta fechar os olhos e conseguimos transportar-nos para esse mar, cheio de culpa, cheio de esperança para retornar o encontro com a sua amiga, Maria Mar, somos todos os que caindo, nos conseguimos erguer e encontrar novas razões para ser feliz. Um grande beijo, Adelaide

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  3. Anónimo3.8.11

    Que triste e linda mensagem. Real e cheia de coragem. Vivemos como se tudo fosse certo, quando algo acontece, revelamos a fibra de que somos feitos e esta Maria Mar é a coragem em pessoa. Beijocas C.

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  4. Anónimo3.8.11

    Agora que estamos em época balnear é bom recordar que todo o cuidado é pouco. “Há mar e mar. Há ir e voltar”. Mário

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  5. Anónimo3.8.11

    Lembro-me desta história, foi triste ver uma jovem cheia de vida, de sonhos, perde-los assim. Felizmente conseguiu superar e recuperar a esperança. Bjs, Leonor

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  6. Anónimo3.8.11

    Obrigada por contares aqui estas histórias de vidas. Sobretudo porque são reais, são o verdadeiro exemplo de coragem que nunca devemos perder. Amalia

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  7. Anónimo3.8.11

    O Mar, no seu fluxo e refluxo, obriga-nos a pensar e repensar a nossa Vida e o nosso Respirar … porque o Mar é contradição, é o oposto permanente, é que o Útero, a Mãe, a Vida, a Morte, a Luz e a Noite. Nemésis e Ísis!
    Esta é uma história de Vida, Vida Repensada e plena de sentido , em que cada respirar é feito como o fluxo e refluxo do Mar. Gostei muito de conhecer Maria do Mar! SEI como ela se sente e admiro-a, com toda a força, que minha inabilidade de movimentos me da e me leva a dizer: Maria do Mar , ele veio beijar-te e pedir-te desculpa, de te obrigar, a olhar a vida dum ângulo agudo com a obtusidade do Sal agreste!
    Maria-Jose

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