sexta-feira, 5 de abril de 2013

Post.it: Um Pomar em retrospectiva

Para os que ficaram curiosos sobre o desenlace daquele incidente no Pomar, devo referir que aquele foi apenas o primeiro osso que o meu amigo partiu, mas que a todos eles sobreviveu exibindo alegremente um gesso cheio de autógrafos e desenhos abstractos  Mas lá diz uma figura pública da nossa praça, “criança que não partiu um osso não teve uma infância feliz”. Fazendo jus destas palavras, “também fui uma criança feliz”.
Mas a lembrança que me ficou  mais marcante sobre aquele Pomar e que me deixou um rasto de  infância pela vida fora, foi a forma como o meu olhar se encheu de flores, de cores, de cheiros, de sensações que me invadiam o peito e que me dançavam e dançam, no pensamento.
Aquele Pomar de árvores frondosas, carregadas de frutos. Aquelas terras que se estendiam para lá do horizonte, desenhando um caminho de infinito que chamava por mim, como se para lá fosse o meu destino. E por ele segui quando para trás deixei aquele Pomar de perfumadas maças, que ainda hoje me exalam nos sentidos. Por vezes fecho os olhos e ainda ouço as águas do riacho a correr, ainda ouço o riso alegre dos meus amigos enquanto saboreavam as maças roubadas e relatavam à sua maneira a grande aventura. Não nos imaginem já o pronuncío de futuro de marginalidade porque posso garantir cada um de nós trilhou pela senda de bons e exemplares cidadãos. Mas tínhamos os nossos momentos de pequenas/grandes peripécias infantis.
“Nunca voltes aos locais onde foste feliz” diz a sabedoria popular, mas teimosamente quis contrariar esta expressão e voltei…
Já lá não estava o velho de olhar frio mas de coração quente, aliás, ninguém se lembrava dele. O pomar pareceu-me pequeno, as árvores muito mais baixas, tão baixas que quase parecia absurdo alguém cair delas. “O Pomar não encolheu, tu é que cresceste”, confirmaram o que já sabia, mas duvidava na observação.
Vi o seu limite tão finito, fiquei triste, como se me tivessem roubado um pouco da infância. Com pressa meti-me no carro, acelerei, fugi daquele lugar, antes que reencontrasse outras memórias e a realidade do agora as rasgasse da minha lembrança, como se fosse um papel amarelecido e sem valor que se podia deitar fora sem antever a importância pessoal de cada linha que o tempo nele escreveu.
Parti, não olhei para trás tentando guardar a certeza de que o passado continuava lá para preencher de vez em quando o meu presente e quem sabe para um dia o contar ao futuro.