terça-feira, 9 de abril de 2013

Post.it: Na fila do supermercado

Neste fim de semana tudo me corria mal, o relógio parecia divertir-se com a minha tentativa para o acompanhar, com o meu efémero desejo de o ultrapassar, mas nada feito, todas as marcações resultavam numa infinita espera. Senti-me, salvo a enorme distância e a absurda comparação, como no tempo da 2ª Grande Guerra em que se tinha de ir para a fila de tudo. Mas lá estava eu na fila para o cabeleireiro folheando vorazmente uma revista da moda. Depois na fila da farmácia, seguidamente na fila da costureira, passando pela fila da gasolina. Tentei acalmar-me na fila do café, mais que não fosse na ante-visão de satisfazer o vício. Por fim a minha manhã parecia ir terminar na fila da caixa de supermercado, porque tinha estrategicamente evitado a fila do peixe e da carne. Fiz a minha escolha de caixa num raciocínio de lógica quase matemática, só estava uma pessoa à minha frente, suspirei, será que vou conseguir recuperar o tempo já perdido? Será que vou ter um bem-sucedido encontro com os ponteiros, tudo parecia indicar que sim. Mas havia uma suspeita a tilintar-me por dentro, a campainha da intuição obrigou-me a dirigir um olhar mais atento à pessoa que estava à minha frente. Não sei descrever a sua imagem, o aspecto físico, a expressão do rosto, o que vestia ou outros detalhes porque na realidade não lhes dei importância. A minha atenção foi dirigida aos gestos, à lentidão da acção e sobretudo à extrema, mas mesmo extrema arrumação de cada produto sobre a passadeira da caixa. Tentei perceber o que dava tanta harmonia à disposição dos produtos: seriam  as cores, a dimensão, a forma redonda e quadrada? Não encontrei resposta. Meio curiosa, meio hipnotizada, já a imaginação me dançava uma valsa lenta entre células e neurónios. Será que a sua vida seria assim tão arrumada, os seus pensamentos, os seus sentimentos, desejos, vontades? Será que arrumava a tensão sem “roer as unhas” nas filas de espera? Será que dava aos outros essa mesma calma, essa mesma harmonia? Invejei-a, queria tanto ser como ela, calma, ponderada, harmoniosa, caminhar sem urgência como se soubesse que não precisava ter pressa porque a meta estava à minha espera. Uma meta de sucesso, de alegria, de felicidade. Uma meta concretizadora de sonhos, uma meta com alguém que faria sempre parte da minha vida e de mim, sem ter lutar, sem ter de fracassar, apenas e sempre caminhar firme e serena.
Mas o relógio tirou-me desse doce torpor, o almoço estava à espera para ser feito, as visitas deviam chegar na hora marcada e ainda havia tanto por fazer. Como não tinha começado a tirar as minhas compras do carrinho do supermercado, fiz uma rápida inversão de marcha e mudei de caixa, mudei de fila, que apesar de ter maior dimensão, estava cheia de gente apressada como eu. Pessoas stressadas como eu, pessoas que não saboreavam o tempo como eu. Pessoas que não tinham harmonia, que não tinham calma, que não tinham tempo.
Se um dia a voltar a encontrar, vou pedir-lhe que me ensine a saborear o prazer de cada dia. A apreciar a beleza da viagem sem me preocupar com a chegada. Afinal, o futuro, seja qual for, pertence-nos, e o presente passa demasiado rápido para que desperdicemos a oportunidade de o viver.