quarta-feira, 24 de abril de 2013

Post.it: Os sonhos que já sonhámos


Outro dia no autocarro sem ter mais nada de importante para fazer, afinal, a paisagem vista da janela é sempre a mesma, as lojas são sempre as mesmas, bem não será bem assim, em cada mês há sempre alguma a fechar. Mas dizia eu que apesar de tudo isso não tinha nada de importante para fazer, podem sugerir-me que leia, mas a verdade é que fico completamente enjoada, assim sendo lá ia dando uma espreitadela pelo canto do olho para os meus companheiros de viagem, à minha frente estavam duas crianças, não teriam mais de 10 anos numa animada conversa riam e acusavam as características de cada um,  “ora, dizes tu que queres ser gangster e ainda bebes leite antes de adormecer!?” O outro corou sem encontrar resposta deu-lhe um valente empurrão, mostrando “que era o leite que lhe dava essa força”, ou melhor que à falta de superior argumento partia-se para a “ignorância”. Como os tempos mudam…
Já dizia Luís Vaz de Camões, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Quando era criança, os meus primos queriam todos ser cowboys, claro que eu preferia ser uma índia fugidia. Entre gritos e gargalhadas lá íamos preenchendo os nossos ideais de infância. Nos finais do século XIX, Teresa Cepeda e o seu irmão Rodrigo, crianças ainda de tenra idade (7 e 6 anos respectivamente) fugiam de casa perseguindo uma ideia de felicidade, queriam, porque queriam, tornar-se mártires.
Que loucura, diríamos hoje, que coragem, que beleza de espirito consideram certamente naquela altura.
Os meus primos, nunca chegaram a verdadeiros cowboys, nem eu a índia. Aqueles miúdos do autocarro, espero que não se tornem gangsters e continuem a beber leite ao deitar. Quanto à Teresa Cepeda, não se tornou mártir, foi para carmelita e  hoje é recordada como Santa Teresa de Ávila.
Estranhos são os desígnios da vida, dos sonhos que abandonamos pelo caminho ou que levamos pela vida fora.