quarta-feira, 3 de abril de 2013

Post.it: Introdução


Busco um livro sem final, para acrescentar o meu. Procuro um livro sem fantasias porque a realidade também pode ter um final feliz. Basta escolher o caminho certo, tomar as decisões mais correctas. Basta seguir o coração, e, ir com ele para além da razão. Não garanto que seja fácil, não garanto que tudo dê certo, vai ser preciso lutar, contrariar os ventos e as marés. Vai ser preciso circular por vezes em contra-mão, desafiar os perigos, magoar-se, arriscar. Seguir em frente mesmo quando nos apetece parar e conformar-se com o que é fácil. Acreditar, acreditar mesmo quando não há certezas. Quando a dúvida nos asfixia, quando todos nos gritam que não e nós sussurramos no último fio de voz um sim em que queremos confiar. Mesmo quando já não temos confiança e, no entanto continuamos a caminhar naquela direcção, a deixar que a lua nos roube o sono e nos encha de um breu mau conselheiro. Mas o sol volta a dar-nos ânimo e esperança, por vezes uma nuvem tenta ocultá-lo na sua majestosa escuridão, mas há sempre um raio mais persistente, mais teimoso, que rompe o nevoeiro e sorri-me num gesto de incentivo que diz “continua, não pares, eu vou à frente para iluminar o túnel”. Então caminhamos, cegos de cansaço, mortos de desesperança, mas firmes no voltar de cada página, porque o final da história aguarda-nos como uma meta pronta para ser cortada.
Ergo os olhos exaustos da leitura, descanso o coração empolgado pela memória daquelas linhas, outros olhos observam-me, olhos muito abertos em suspense da continuação, ávidos por uma conclusão “E então, e então, o que aconteceu depois?”. “Meus queridos netos, o depois fica para amanhã que agora já estou cansada de ler”. “Oh, só amanhã é que conheceremos a tua história e saberemos se houve um final feliz? Ainda falta tanto tempo para amanhã”. Os jovens, sempre tão impacientes, como se o tempo não corresse a seu favor, quando tudo, mas tudo corre na sua direcção. Mas não leio mais, não por cansaço como me desculpei, mas com receio de os desiludir, de não encontrar na minha história um final feliz, apenas momentos de felicidade, que para os jovens famintos de ventura lhes sabe sempre a pouco. Amanhã, certamente já refeita da emoção de recordar as minhas memórias, invento-lhes um final feliz, para que continuem a acreditar que o seu pode ser um deles.