quinta-feira, 11 de abril de 2013

Post.it: Sombra obliqua


Há quanto tempo que sou apenas eu e a minha sombra, vejo no horizonte outras sombras, tento encontrar a consonância dos contornos, o encaixe de essências, o encrave de células ou apenas a descoberta de sonhos comuns. Procuro uma sombra paralela, que caminhe comigo, que se eternize pelo luar da noite, pelo nascer dos dias. Até ao momento em que o sol no seu jogo de luzes, me rouba a sombra que supus, completar a minha.
E o céu nocturno, companheiro, ouvinte dos meus silêncios, vai desenhando outras sombras, para me iluminar o coração. Rejeito todas, prefiro por a companhia, apenas  a minha sombra. Mas eis que o peito já me trai, e o olhar já se estende, o sorriso já se me aflora, por essa sombra que se aproxima, replecta de suaves promessas, desenlaço os braços, estendo-os em abraços, com um convite para que entre na enseada do meu ser. Um apelo para que caminhemos lado a lado, um desejo que unamos as sombras e redesenhemos a felicidade da vida. Mas ela não se detém, cruza a sua sombra com a minha e, continua o seu percurso como se lhe fosse indiferente. Apenas uma sombra vazia de conteúdo, sem possuir uma vida anexada.
 Volto ao meu passeio no luar da noite, arrasto a minha sombra pelas ruas vazias. Enquanto no peito transporto, a longa nostalgia derramada. Mais uma vez não foi aquela, a sombra que se tornou una com a minha. Nem foi a sombra que me acompanhou num destino paralelo ao meu.
Restou a saudade daquela sombra mais sonhada do que vivida, aquela sombra oblíqua.