quinta-feira, 3 de maio de 2012

Post.it: O tempo sem tempo marcado


O relógio da nossa existência não bate no mesmo ritmo do relógio mecânico que transportamos no pulso. Porque a vida não consegue adaptar-se à rapidez com que se sucedem os dias. Nem apagar os acontecimentos que nos entristecem, na sucessão dos meses. Ou adaptar-se à ligeireza com que passam imparavelmente os anos.
Há dias que nos duram na alma como se fossem anos de espera e chegam ao fim sem sucesso algum para relatar. Há anos que narrados ao pormenor não preenchem a totalidade de um dia. Há amigos, que permanecem nas nossas vidas por tempos infinitos e que no entanto, a recordação que temos deles só leva uns minutos a contar.
Há amores que guardamos por anos, que nunca chegam a ser concretizados e que duraram mais, muito mais que os acontecidos. Amores que nos deixaram no olhar da esperança, beijos e abraços que nunca chegaram a ser trocados. Há pessoas que caminharam ao nosso lado por meses e, nos trouxeram a importância de anos.
Quanto ao tempo, esse de que somos feitos, mesmo quando o tentamos arrumar nos 365 dias do ano, nem sempre o conseguimos acompanhar, porque ele não nos dá uma pausa, para nos permitir retomar o fôlego. Mesmo quando as tristezas insistem em prolongar a sua estadia por meses, anos.
Mas há acontecimentos que nos marcam de tal forma, que nos acompanham pelo resto da vida. Que não se apagam com o simples virar da folha do calendário: os nascimentos, as mortes, a conquista dum sonho, o final de algo que desejávamos que fosse eterno e, outros, muitos outros que permanecem indefinidamente em nós.
Porque em cada viagem que iniciamos, nesse tempo, sem tempo marcado, não devemos valorizar somente a chegada, nem lembrar apenas a partida. Devemos sobretudo, apreciar  a paisagem do caminho que vamos conhecendo. Porque é esse tempo que vai brilhar no nosso olhar quando o sol desaparecer do horizonte. Quer se chame saudade ou desejo de o viver. É esse compasso que vai dar ritmo ao coração para nos levar a novos capítulos da nossa história. Num tempo em que tudo parece efémero, vamos afastar o olhar do relógio e aproveitar o tempo das emoções, esse que constitui a verdadeira essência do nosso tempo.

10 comentários:

  1. Anónimo3.5.12

    Mais um texto quase descritivo das emoções, aquelas que o tempo nos deixa na sua passagem. E com o tempo tenho verificado que a sua escrita cresce e amadurece. O tempo é-lhe bastante favorável, aceite-o e viva-o feliz. Um grande abraço, Antero

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  2. Anónimo3.5.12

    Dizem que o tempo é o que fazemos dele. Mas é também o que ele faz connosco, como o sentimos, como nos marca. Nem sempre é um tempo feliz, mas é o nosso tempo e é nele que temos que viver e em vez de culparmos o tempo de tudo, talvez seja melhor solucionarmos atempadamente os nossos dilemas. Sandra B.

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  3. Anónimo3.5.12

    Percebi o que dizes. Porque já senti tudo isso. Aliás já passei por tudo isso. O tempo físico não consegue acompanhar o imperturbável relógio. Amália

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  4. Anónimo3.5.12

    Adorei esta visão do tempo. Todos temos um tempo marcado. Uma agenda em que anotamos os compromissos e nas entrelinhas ficam aqueles que não lemos porque estão invisíveis aos nossos olhos e que se vão revelando pouco a pouco. Alberto F.

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  5. Anónimo3.5.12

    Todos nós necessitamos de balizas temporais que determinem o tempo que temos para dispensar nisto ou naquilo. Claro que o coração não se encaixa neste tempo, que desejamos seja infinito mas também ele tem o seu tempo. Bjs, Luís

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  6. Anónimo3.5.12

    Que bonito é o tempo que nos ofereces nestes textos que sentimos tão próximos de nós. E porque o tempo físico está marcado. Prometo voltar, quando tiver mais tempo para estar aqui contigo. Beijocas, C.

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  7. Anónimo3.5.12

    Quantas vezes quis parar o tempo. Esquecer-me dos dias. Mas não adianta o tempo não faz caso de mim, segue o seu rumo e deixa-me para trás. Bj. Leonor

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  8. Anónimo3.5.12

    Reconheço na leitura que fazes do tempo um sentimento igual ao meu. E até os amores que permanecem no limbo e que por vezes me tornam mais felizes na expectativa do que os outros na concretização.

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  9. Anónimo3.5.12

    "Apreciar a paisagem do caminho" em vez de lamentar a passagem do tempo bom e a teimosia do tempo mau, valorizar o tempo que passa agora e apreciar tudo o que nos dá. Como estes olhares quase poéticos, de serenidade e reflexão que todos os dias enchem de qualidade o nosso tempo.

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  10. Anónimo3.5.12

    http://www.youtube.com/watch?v=TYKZ2_z5Qhk&list=FLuASAT0EOYukNmx6UdJ0Rog&index=15&feature=plpp_video

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