sexta-feira, 16 de março de 2012

Post.it: Uma estrela contou-me

"Estava eu, pequena estrela, ainda aprendiz de como cintilar no universo, a tentar manter-me firme no meu quinhão de céu, quando, sabe-se lá porquê, deram-me ordem para nascer na terra. Tentei rebelar-me, mas em vão, porque nestas coisas dos deuses, não vale apena encetar qualquer género de discussão. 
E foi assim que me vi a gritar a plenos pulmões sem saber que isso era respirar, sem saber que isso era sobreviver. Perscrutante na senda da vida, lá fui superando as quedas, ultrapassando os obstáculos. Enquanto que habituada a brilhar, senti-me muitas vezes subjugada para a escuridão e aprendi a humildade que devemos sentir na relação que estabelecemos com os outros. 
Entendi que nem todos podemos ser estrelas e que por vezes só o somos porque os outros nos elevam a essa posição com o seu reconhecimento e carinho. Percebi ainda que brilhar só faz sentido quando a nossa luz serve para iluminar um caminho que parece indefinidamente escuro".  Sabe que agora, a pequena estrela de tudo o que aprendeu,  pode ser uma estrela cintilante ou apenas uma pedra,  porque não importa a forma, mas a função e a missão cumprida.
“Um dia regressarei. Confidenciou-me num suspiro, não de saudade pela partida, mas com a ansiedade do retorno. O regresso às origens, ao lugar onde  pertence, ao seu berço de vida.
 - Vais ver-me todos os dias? Pergunta-me num tom inquieto.
- Claro que sim. Respondo-lhe com prontidão.
- Aliás, estou sempre a olhar para as estrelas, sinto nelas algo de familiar, como se fossem a ligação de outros olhares que também as observam.
Dirige-me um olhar cintilante, daqueles que só uma estrela possui, e sorri, com um sorriso ingénuo de criança, daqueles que já nem mesmo as crianças detêm, porque o perdem demasiado cedo no precoce desencantamento da inocência.
- Então já percebi porque andas sempre a esbarrar com todos os postes. Estás sempre a olhar para nós, lá no céu.
- Que fazer quando o olhar tem asas que não conseguimos aprisionar, na esperança de que esse voar, um dia nos leve para um local onde queiramos permanecer indefinidamente...

9 comentários:

  1. Anónimo16.3.12

    Comecei por sorrir do tom de brincadeira, mas fui percebendo que a mensagem era bem séria. Terminou quase com o mesmo sentido de humor. Adorei. Cuidado com os postes. As estrelas não estão lá em cima só para serem vistas mas para iluminar também os obstáculos/postes do caminho. Filomena

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  2. Anónimo16.3.12

    Hoje chegaste atrasada, não me acompanhaste no pequeno almoço. Senti muito a falta do teu post.it. Mas valeu a espera.
    Isso é o que se chama um belo truque literário, atrair pelo jocoso e conquistar pela mensagem sem nunca perder o fio condutor. Beijocas C.

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  3. Anónimo16.3.12

    Então é assim que nos levas até ao fim de semana. No conto desta estrela que te/nos contou a importância não do que se é mas do que devemos ser. Bj, Amália

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  4. Anónimo16.3.12

    Muito giro este post.it, uma história para crescidos num tom harmonioso e jovial. Tenho a certeza que a mensagem passou e que nos tocou a todos de uma forma especial. Alberto F.

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  5. Anónimo16.3.12

    Gostei desta lição de vida, desta estrelinha que começa em tom quase infantil e vai num crescendo revelando maturidade e menos vaidade pelo seu brilho. Bjs, A.

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  6. Anónimo16.3.12

    Que têm de tão belo as estrelas para que te fixes nelas e não vejas na terra quem vê em ti a estrela mais brilhante?????

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  7. Anónimo16.3.12

    Agora percebi porque esbarras com os postes, andas distraída com o olhar nas estrelas. Aterra menina, porque voar demasiado fazer-te perder as coisas belas que na terra firme existem. Beijão, Luís

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  8. Anónimo16.3.12

    Todos podemos ser estrelas e brilhar, não no céu mas na vida de alguém. José

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  9. Anónimo16.3.12

    Gosto dos valores que aqui surgem bastante claros, a humildade, o reconhecimento, a valorização do papel de cada um no seu lugar, esteja ele na altura em que estiver.

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