quinta-feira, 22 de março de 2012

Post.it: Todos os nomes da vida

Ela chorava e ria sem poder conter no peito tanta alegria. Esse encontro que sabia a reencontro consigo no outro e do outro em si. O rosto reluzia e os olhos cintilavam como estrelas em pleno dia. Perguntaram-lhe o que tinha, se estava bem ou se sofria e sem saber como lhe chamar, sem saber como explicar a dor de prazer que lhe inundava de festa o coração – Chamou-lhe Amor.
Esperava, desesperava, ansiava, quando começaria, quando terminaria, quando o veria, quando o receberia nos seus braços de mãe. Mãe repetia saboreando cada silaba e a palavra esvoaçava-lhe no ventre. Esse ventre cheio de vida, cheio de amor.
Navegante em estreia por essas águas da existência, chamou-lhe numa pressa de advento -  Nascimento.
Queria abrir os braços, estender a alma, para abraçar o mundo, o seu mundo, que se aproximava, que lhe iluminava o coração como se fosse um sol. O sol da sua vida. Que lhe roubava feliz o alento e lhe deslumbrava a razão. E com adolescente urgência de querer, quando lhe questionaram tanto júbilo, sem resposta rebuscada. Chamou-lhe apenas - Chegada.
Era impossível quebrar aquele círculo de amor. Era impossível romper os laços soldados com tanta ternura. Podia esticar, aceitava o dilatar, não o despedaçar e,  nunca o romper. Não chorava, prometera a si própria que não o faria. Compreendia que era a evolução natural da vida, que tudo segue o seu destino.
Perguntaram-lhe o que tinha, O que podia ser feito para a ajudar. Deixou o olhar caído no chão, como se nele sentisse também o coração e sem saber que outro nome lhe dar chamou-lhe – Despedida.
Silêncio era tudo o que lhe dançava na alma. Perdera as palavras, a vontade de as ouvir, de as proferir e até de as sentir magoadas. Silêncio era tudo o que desejava, como se fosse um cobertor macio e quente que lhe confortava o frio interior, um vazio desconhecido, que não conseguia colocar em expressões verbais, que não conseguia sentir sem gemer. – E nas dores de que a vida é feita, dos nomes que a preenchem, mais um lhe acrescentou - Luto.
Fazia sentido completar assim todos os nomes da vida. Mas a vida é uma criança irrequieta, que não para um só instante. Que depois de cada final renasce, talvez, com maior beleza. Porque há nela uma enorme vontade de sair de cada tenebrosa noite e voltar a ser brilhante madrugada. A vida existe para encontrar o seu outro nome - Felicidade.

10 comentários:

  1. Anónimo22.3.12

    Quando penso que já li todos os teus estilos, que já não me podes surpreender, escreves um texto deste e deixas-me a pensar que afinal pouco sei. Mas é bom assim, ir-te descobrindo e reconhecendo a tua riqueza humana e o dom da escrita. Bjs, Amália

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  2. Anónimo22.3.12

    A vida parece muito mais que isto, mas vendo bem é isto no essencial. Os encontros, os nascimentos, as chegadas e partidas e os lutos que vão sendo cada vez mais. Alberto F.

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  3. Anónimo22.3.12

    Não sei como te dizer que me tocou profundamente este texto, pela beleza das expressões, pelo caminho que todos nós cada um a seu tempo o fará e depois quando parece que não há mais nada para acrescentar, falta a conclusão de que tudo pode ser melhor, se não desistirmos.

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  4. Anónimo22.3.12

    Minha amiga, que beleza de post.it, no conteúdo, na forma escrita. Sobretudo na mensagem que nos oferece. Que tudo faz parte da vida, as coisas boas e as más, os inícios e os finais mas a esperança de cada renascer. Um grande beijo, Adelaide

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  5. Anónimo22.3.12

    Uma grande lição, este nomes que falam de todos nós, que os sabemos mas que em muitos momentos tomamos claramente consciência deles. Momentos de alegria, momentos de tristeza. Mas como sempre a tua reflexão não nos deixa tocar o fundo, pelo contrário, acende-nos uma luz no fundo do túnel. Obrigada por essa positividade, que ela sempre te acompanhe.. Bj, Sandra B.

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  6. Anónimo22.3.12

    Todos os nomes da vida, poderiam ser acrescentados muitos mais, mas no fundo tudo se resume a isto, num ciclo de momentos, de princípios e finais. Tudo em nome de um caminho em busca do que tu dizes ser o outro nome da vida, a felicidade. Adorei. Beijocas, C.

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  7. Anónimo22.3.12

    Nunca tinha visto a vida com estes nomes, com todos eles. Embora já os conheça e tenha sentido. Não os saberia expor assim, numa magnifica síntese que consegue dizer tanto e conclui aquilo que somos em desejo de encontro – Felicidade.

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  8. Anónimo22.3.12

    És uma excelente companhia e uma grande inspiração. Estar aqui é encontrar um recanto de carinho que sinto sem te conhecer, que deve fazer parte da tua maneira de ser.

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  9. Anónimo22.3.12

    Admiro a sua escrita, os assuntos que aborda e uma característica que lhe noto muito própria, o encadeamento das ideias, a condução de uma linha do início até ao final e depois, a conclusão, a confluência de um todo que nos deixa literariamente preenchidos. Um grande abraço, Antero

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  10. Anónimo22.3.12

    Nunca deixes de escrever assim oferecendo-nos tão belos momentos matinais. E nunca deixes de sentir assim a vida, porque mesmo que não seja sempre boa, acredita que o seu outro nome é felicidade.

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