quarta-feira, 7 de março de 2012

Post.it: O mundo como o conhecíamos...

O mundo tal como o conhecíamos terminou, reconhecemos, a cada passo que damos, a cada olhar que lançamos em redor e dentro de nós. Não sei se é uma mudança boa que se avizinha, algo que tememos porque ainda estamos arreigados de saudosismos. Ou por recearmos que tudo à nossa volta se desmorone, as estruturas emocionais, os pilares sociais, o cais onde aportávamos quando tínhamos necessidade de o fazer.
O mundo tal como o conhecíamos terminou. Não, não vou deixar aqui queixumes sobre a crise, já muito foi dito, muitas lágrimas derramadas, muita tinta a descrever a situação, entrevistas, opiniões e pouco ou nada de soluções. Mas adiante.
Vivemos num mundo que não passa de uma aldeia global, une para o bem e para o mal nações que deixaram de conseguir ser donos do seu destino para estarem todos eles interligados.
E quanto mais ligados, mais dependentes, mais ausentes da dor alheia. Afinal quem consegue dividir a sua amizade com 3000 amigos virtuais? E quando se precisa de um real, haverá por aí um abraço disponível?
- Bom.. Diz-me uma amiga, daquelas que ainda partilham connosco um chá das 5. Não é fácil gerir tanta informação. Além disso temos que cuidar da quinta. Olhei-a com o mais puro olhar de ignorância. “Quinta? Tu tão orgulhosamente citadina, não te estou a ver envolvida em coisas campesinas”. Riu-se a bom rir. “Nada disso, estou a falar do jogo do facebook, o Famerville, onde temos que dar comer ao gado e cultivar os campos”.
Estranho este envolvimento em pessoas que já têm tanto que fazer, casa,  carreira e filhos. Como dizia outro dia uma amiga minha, “já não há tempo para pais e filhos dialogarem”. Nem entro nas questões de privacidade, porque cada um cede voluntariamente a sua, quase sem se aperceber.
Outra amiga deixou de me escrever  emails, para “me trocar” pelo facebook, bom lá vai telefonando de quando em vez quando, no intervalo das ordenhas, suponho.
Outro dia outra amiga escreveu num trabalho, “O futebol é um desgosto”, quando deveria escrever, “O futebol é um desporto”. Preocupada com a gaffe, não sabia como havia de a corrigir porque saiu  assim impressa. Amenizando a situação brinquei. – Olha, fugiu-te a boca para a verdade. Mas nos tempos que correm seria mais correcto dizer “ fugiu-te a tecla para a verdade”.
Porque o mundo tal como o conhecíamos terminou. Fica-nos a esperança de que cada mudança seja sempre para melhor, mesmo que no início nos deixe um pouco desnorteados.

9 comentários:

  1. Anónimo7.3.12

    Minha amiga, eu ainda sou dessas que estou presente no chá das 5, aquela que dou abraços sem serem virtuais. Tenho facebook mas não perco muito tempo com isso, quanto à quinta, dispenso, não tenho tempo para essas coisas. Bjs A.

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  2. Anónimo7.3.12

    Espero que nem todas as pessoas façam uma leitura em diagonal e não percebam as entrelinhas deste texto. Muito interessante, diga-se desde já. Gostei do que li, e do que entendi. Sobre este mundo que se torna cada vez mais pequeno e simultaneamente de maiores dimensões sociais. Demasiada informação gera desinformação. Muitas pessoas (amigas) gera em muitos casos solidão. Mas também esta ligação de nações, de dependências politicas e económicas, que gerem os nossos destinos. Seguindo o seu exemplo, não vou falar, embora ela esteja sempre presente e quem sabe a tentem esquecer alienando-se em redes sociais. Um abraço, Antero

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  3. Anónimo7.3.12

    Minha amiga, preso a amizade real, embora a distância e a falta de tempo torne aprazível o uso da internet. Não vou muito ao facebook. Admito que aderi porque me diziam, “se não tens facebook, não existes”. E profissionalmente preciso mesmo de existir. Alberto F.

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  4. Anónimo7.3.12

    Gostei deste texto, tem muitos elementos de análise e concordo com quase todos eles. Quanto às redes sociais, são o que as pessoas as tornarem, quando lhes abrem as portas das suas vidas.

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  5. Anónimo7.3.12

    Ouço muitas teorias, muitas vozes que concordam e outras do lado oposto. Quanto a mim continuo a dizer, é uma opção. Cada um faz a sua, se quer expor a sua vida, depois arque com as consequências. Porque tudo o que se coloca na internet fica lá para sempre, por mais que apaguemos, desliguemos etc. Fica a navegar no espaço sideral e um dia poderá aparecer num contexto diferente. O grande problema é que poucas pessoas sabem disso. Luís

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  6. Anónimo7.3.12

    Não sei se vou ser uma voz discordante ou não mas a verdade é que adoro o facebook e por vezes relaxo um pouco a brincar com os meus animais de pasto. Claro que não condiciono a minha vida, os meus horários por isso. Tenho prioridades, e os amigos que necessitam dum abraço, estão sempre em primeiro lugar, sobrepondo-se aos outros 3 mil (não tenho tantos) Beijocas C.

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  7. Anónimo7.3.12

    Por vezes o melhor é mesmo deixarmo-nos ir, arrastados pela multidão. Tenho a convicção que depois da tempestade virá a bonança e que um dia, as redes sociais e outras idênticas encontraram uma maior selectividade. Claro que até lá muito mau uso se fará das coisas. Mas o mundo é feito de pessoas e é por conseguinte sempre o seu reflexo.

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  8. Anónimo7.3.12

    Apesar do susto que tudo isto me provoca. Devido sobretudo à dificuldade de controlar esta avalanche, que quer queiramos , quer não nos envolve, sobretudo quando temos filhos em fase de adolescente. Ainda me consegui rir, ao imaginar “os telefonemas que se fazem à pressa entre ordenhas”. Quase que parece que andamos a organizarmos entre mamadas dos filhos. Leonor

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  9. Anónimo7.3.12

    Adorei o tom jocoso, ainda me ri. Bem sei que é uma questão muito séria, estas mudanças que já tenho dificuldade em acompanhar. Os meus filhos lá vão introduzindo-me nas auto-estradas da informação. Mas o meu “carrinho” intelectual já esta a ficar velho e cansado. Amália

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