terça-feira, 21 de novembro de 2017

Post.it: Estatisticamente estática

Queria construir jardins feitos de tinta, uma tinta     que não pinta mas escreve e descreve a aura da emoção. Queria fazer flores, oferecer amores em tons de primavera em ternos odores, mas, eu que apenas escrevo, ou melhor, tento escrever, acreditando que pelas palavras consigo dar um pouco de mim, sinto e sei nada mais faço do que míseros rabiscos sobre as linhas.
Rabiscos que parecem, ou melhor que quase, mesmo parecem, palavras. Tão simples, tão banais, mas também elas têm de passar pela mudança, uma quase transformação onde ainda me sinto aprendiz e criança, o papel passa a ser um ecrã e a caneta é uma tecla.
Felizmente ainda há dedos dedilhando e aquecendo a frieza do teclado. Felizmente ainda há a mão ponta do caminho que começa suave no coração para que possa desenhar jardins e que nele cresçam flores. Para que cada semente em forma de letras cresça em árvores com doces emoções que embalam o fim das tardes.
Por fim, quando os sentidos se desligam das máquinas e são novamente humanas, frágeis, sensíveis, quando libertam olhar prisioneiro desse plano direito e estático,  podem, então, abrir as asas e voar sem receio, pelos contornos do horizonte.
De vez em quando, é preciso, ser-se pessoa e viajar pelos caminhos da alma, ser mais do que estatística, ficar mais do que estática e, ouvir os passos ao compasso do coração.


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