segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Era uma vez: Uma varanda de ver mundo (2)

Deixou-se ficar a ouvir música no seu mp3 e a observar o parque, saboreando antecipadamente o passeio de Domingo, com os amigos que nunca deixavam de aparecer. De repente, começou a ouvir uma vozinha cantada, que mais parecia um sussurro: “Por que estás sempre aqui? Estás sempre aqui, por quê?”
Olhou e não viu ninguém. Estaria a sonhar? Não, não estava. A voz disse mais alto:
“Então, não sabes falar?”
“Claro que sei falar. Mas não vejo ninguém! Não gosto de falar sozinho!”
“Sou eu, estás farto de me ver!”
“Eu, quem?”
“Eu! Quem haveria de ser? Só estou aqui eu!”
João pensou que estava a sonhar e esfregou os olhos. “Juro que não vejo ninguém!”
“Então, vê lá se ao menos consegues ouvir-me!”
Um canto, trinado e melodioso, encheu o ar! O mesmo canto que João ouvia quase diariamente, sempre que o pequeno rouxinol vinha apanhar as migalhas do pão ou os pequenos grãos de cereais que a mãe costumava comprar para a pequena ave e por quem sentia um secreto agradecimento pela visita regular que fazia ao filho. João sentiu-se petrificado e teve medo de estar a ter algum delírio.
“Não pode ser, tu não falas!”
“Claro que falo! Falo quando quero e com quem quero!”
“Mas já vieste aqui tantas vezes e nunca falaste!”
“Hoje não há migalhas. Não estavas à minha espera?!”
“Vieste mais cedo. Ainda não lanchei! Então só falaste porque não há migalhas?”
“Porque não há migalhas, nem grãos, nem nada e porque me apeteceu. Já me anda a apetecer falar contigo há muito tempo!”
João rodou a cadeira, deu uma volta sobre si próprio, esfregou os olhos, puxou os cabelos e voltou a olhar o pássaro, pensando que aquilo não podia estar a acontecer!
“Porque estás com essas patetices? Não é boa educação fazer patetices quando alguém está a falar contigo!”
"Não podes estar a falar comigo! Os pássaros não falam!"
"Falam, pois! Mas não com toda a gente! Só com algumas pessoas. Nunca ouviste dizer isso?"
"Já, mas pensei que era fantasia!"
“Não, é verdade! Falam os pássaros e todos os outros seres. Mas só algumas pessoas podem entendê-los!”
“E por quê eu?”
“Porque gosto de ti e porque tenho tantas coisas para te contar!”
“Vão dizer que sou doido, que não posso falar com um pássaro.”
"Não precisas de contar a ninguém. É melhor não contares, senão ainda te proíbem de vires para a varanda, pensando que estás com problemas mentais."
"Tens razão. Mas não sei se sou capaz de guardar uma coisa destas só para mim! Olha. Cala-te que a minha mãe vem aí!"
“Então meu filho, não estás cansado? Hoje atrasei-me um pouco com o lanche! Olha, o teu amiguinho já chegou! Também tenho papinha para ele!”
A mãe posou o tabuleiro e afagou os cabelos do filho. Beijou-o na testa e estendeu-lhe uma pequena manta sobre as pernas e sentou-se numa cadeira em frente do filho, depois de colocar uma pequena porção de alpista sobre o parapeito da varanda, para o rouxinol.
“Nunca falta ao lanche, o teu pequeno amigo!”
“É verdade, mãe! Acho que lhe vou dar um nome, para ser mesmo meu amigo!”
O pássaro levantou a cabeça e olhou para ele como quem pergunta: “um nome para quê?” A mãe, sem saber, respondeu por ele.
“Fazes bem – dar um nome é como criar: dá-se vida nova a uma coisa ou a um ser que, assim, passa a ter uma importância única para nós e que, normalmente, se reflecte no nome escolhido. Em que nome estás a pensar?”
“Ainda não sei. Mas sei que hoje é um dia especial: está um belo e luminoso dia e descobri que a vida pode ser surpreendente!”
“A que se deve tal animação!?”
“Deve ser porque o meu pequeno amigo, hoje, veio mais cedo!”
O rouxinol cantou satisfeito com o lanche, com a alegria do rapaz e, sobretudo, porque ele lhe tinha chamado Amigo. Aí está um belo nome, pensou enquanto abria as asas e levantava voo!
“Até amanhã, João!”.
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(Continua)
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4 comentários:

  1. Anónimo13.12.10

    Boa tarde minha amiga, posso tratá-la assim? A continuação da varanda de ver mundo promete. Fico à espera de mais. Gostava que este pequeno rouxinol se tornasse num milagre para o jovem João. Nas histórias os sonhos são sempre possíveis. Pode oferecer-me isso?
    Obrigado.

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  2. Anónimo13.12.10

    Estou a gostar desta história, como das outras que já publicaste aqui. Amiga, tens talento. Vai em frente. MJ

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  3. Anónimo13.12.10

    Hello! I can understand all the words and meaning, but I can see it is about a boy who can hope. All we need is hope, and love!
    I'm learning portuguese with your blog!
    Thank you for the portuguese music.
    Ks. John

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  4. Anónimo13.12.10

    Passei por este blog por acaso e gostei muito principalmente do Era uma vez,com histórias bem escritas e originais. O resto também é bonito com sonhos e olhares diferentes. hei-de voltar.

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