quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Era uma vez: Uma varanda de ver mundo (5)

Central Park, em Otawa - Canadá
A manhã passou rapidamente e pouco depois do almoço, chegaram os amigos do João: três colegas que se acompanhavam desde o infantário e que, com o tempo, se haviam tornado inseparáveis.
O Tiago, um rapaz franzino, de poucas falas e olhos vivos e profundos, sempre com os óculos na ponta do nariz e com uma expressão de quem está continuamente a pensar em alguma coisa importante e séria.
O Hugo, o melhor aluno da turma, alto e bem constituído, com um rosto sorridente a espelhar auto-confiança e alegria, tem sempre uma piada ou uma história para divertir os outros, o que o torna uma companhia muito agradável.
E a Inês, de ar corado, corpo bem proporcionado e porte atlético, tem um olhar directo e um sorriso franco e aberto, que inspiram confiança, com uma forma de se expressar que revela o entusiasmo que põe em tudo o diz e faz.
Ao vê-los entrar, João sorriu de novo, de alegria pelo encontro e de prazer pela expectativa do passeio no parque. Os cumprimentos foram efusivos, como sempre e, para João, um pouco constrangedores – ainda não se habituara a olhar os amigos de baixo para cima e a que tivessem de se curvar para o abraçarem. Mas, tal como fizera de manhã, empurrou esse pensamento para longe e apreciou a companhia dos três companheiros de há tantos anos. Desceram ao parque, passearam pelos caminhos ensolarados, deram a volta ao lago e foram deitar-se na relva da pequena encosta de declive suave e exposta ao sol. Foi ali que partilharam os momentos e ideias da semana, as novidades da escola e da turma, os progressos do João, os livros e ideias do Tiago, os treinos da Inês, as histórias do Hugo e o silêncio que se instalou durante um bom bocado em que, simplesmente, saborearam o prazer de estarem juntos. Foi nesse silêncio que o João sentiu a tentação de contar aos amigos sobre a conversa com o pequeno pássaro. Hesitou, começou a dizer qualquer coisa, calou-se, reflectiu e acabou por continuar calado. “E se tudo não tivesse passado de imaginação? E se os amigos pensassem que ele estava a ficar louco? E se estivesse mesmo? De repente, sentiu medo. Estaria a ficar louco?”
A Inês reparou na sua expressão.
“Que cara é essa João? Parece que estás em altos pensamentos!”
“E estou. Vês os patos no lago? Achas que são amigos e falam uns com os outros como nós?”
Inês ficou calada e o Tiago respondeu por ela, no seu habitual tom sério e sabedor:
“Claro, todos os seres têm formas de comunicação. Pode não ser tão elaborada como a nossa, mas comunicam e muitos têm laços que os unem, ditados pelo instinto natural.”
“Até se apaixonam” – brincou o Hugo. “Olha os pinguins, casam para toda a vida. Mais fieis que muitos humanos!”
“E se falassem connosco, não era fixe? Há um pássaro que me visita todos os dias, vem apanhar as migalhas do lanche. Se ele pudesse falar comigo…!”
A Inês assobiou espantada com a ideia. “Já imaginaste as coisas que poderia contar-te?! Eles fartam-se de viajar! Era mesmo fixe se pudessem falar!”
“E se eu vos dissesse que ele falou comigo!?”
Ficaram todos calados a olhar o amigo, tentando perceber se falava a sério ou se brincava. Falava a sério!?
A expressão séria do Tiago acentuou-se, o Hugo deixou de sorrir e a Inês ficou de boca aberta e olhos arregalados pendentes das palavras do João.
“Eu sabia, vocês não iam acreditar! Nem eu acredito! Mas é verdade, aconteceu. Não sei se estou louco, mas ouvi o pássaro falar e falei com ele. Sei que não estava a sonhar! Juro!”
O Tiago sossegou o amigo. “Tem calma, há relatos de experiências dessas – talvez não seja mesmo falar, mas há comunicação entre os animais e os seres humanos”.
Discutiram o assunto, brincaram com ele, colocaram inúmeras hipóteses e concluíram que o João tinha de estar na varanda à hora do pássaro chegar, para tirar aquilo a limpo. Regressaram a casa mais cedo, todos animados e inquietos com a situação, incrédulos e desejosos de que fosse verdade. Seria?
…………….
(Continua)
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3 comentários:

  1. Amigo Luiz Vaz, esta foto é especialmente para si - a primeira de algumas que procurarei colocar na história para lhe oferecer uma "varanda com melhor vista". Não posso prometer-lhe que o João vai viver o milagre que me sugeriu porque a história constrói-se a si própria, mas prometo-lhe que tentarei fazê-lo viver o milagre da felicidade, o milagre que todos podemos construir dentro de nós e para os outros, com os nossos pensamentos, desejos, sentimentos e atitudes. Sei que me compreende. Desejo-lhe um ano de 2011 cheio desta felicidade que é grande milagre da vida. Um abraço.

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  2. Anónimo30.12.10

    Hello! I can't understand all the story, but I wish the litle bird talks and give the world to João (that's the same of John, isn't it?)
    To you and olhares I wish a happy and great new year!
    Kissis. John

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  3. Anónimo30.12.10

    Minha Amiga de sonhos e histórias agradeço as suas palavras do fundo do coração e a fotografia também. Bem haja pela sua atenção e faça o João viver o tal milagre da felicidade. Adivinho por traz deste blog duas almas sensíveis e generosas e duas mentes inteligentes e lúcidas. Para mim são como anjos bons daqueles de que já tem falado e que não têm asas mas voam pelo amor que oferecem. Para ambas vão os meus votos de que o ano de 2011 seja tudo o que desejam e que continuem a fazer-me companhia. Um abraço agradecido. Luiz Vaz

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