quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Era uma vez: Uma varanda de ver mundo (1)

Colocou-se no seu lugar preferido: o cantinho da varanda larga e comprida de onde podia observar a rua cheia de movimento de pessoas e veículos e, para além dela, o extenso parque de árvores frondosas, onde se abria uma enorme clareira com um grande lago artificial que emprestava frescura e brilho a tudo o que o circundava: os relvados, onde as crianças brincavam livremente, dando largas à imaginação e soltando toda a energia que, nelas, parece sobrar sempre; as pistas de passeio e de corrida, percorridas por “atletas” amadores, a pé e de bicicleta; os pequenos caminhos empedrados e sombreados – os preferidos dos jovens pais e mães que empurram o futuro nos carrinhos de bebé; o parque de exercícios radicais onde soava o rodar e o cair dos skates de onde, milagrosamente nunca caíam os seus jovens ocupantes; os cães que saltavam e corriam por todo o lado, cheirando aqui e ali e marcando o território com o alçar característico da pata traseira. Não se cansava de observar toda esta vida que, no seu movimento e azáfama, lhe enchiam os olhos, às vezes de lágrimas, e os lábios quase sempre com um largo sorriso!
Naquele dia – um sábado frio mas cheio de sol – sentia-se particularmente confiante. Na véspera, o médico elogiara-o pelo seu esforço e empenho. Se continuasse a fazer progressos, quem sabe, ainda poderia voltar a andar! Sorriu, desconfiado de tanta sorte. Pelo menos já conseguia manobrar bem a cadeira de rodas e isso fazia-o sentir quase independente – um quase muito grande, mas… Além disso, sábado era véspera de domingo – o dia em que os amigos vinham ter com ele e o ajudavam a descer ao parque e a fazer parte dele e da vida que dele transbordava. Visto de dentro, o parque tinha outro encanto: descobria os caminhos, largos e recantos que as copas das árvores não lhe permitiam ver da varanda e onde o amor passeava de mãos dadas ou se embalava no conforto de um abraço, quando não se sentava num banco com saudades de um beijo! Tinha apenas quinze anos mas já aprendera a sofrer, a desconfiar e a acreditar de novo, apesar de tudo. Por isso, sim acreditava e esperava que o amor também haveria de lhe acontecer!
A varanda transformara-se no seu espaço de ver e sentir o mundo, enquanto o seu coração se preparava para o enfrentar, acalentando uma enorme esperança de o conquistar!
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(Continua...)
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1 comentário:

  1. Anónimo9.12.10

    Regressou. Gostei muito do início deste era uma vez que promete ser significativo pelo título e maior que os outros pela continuação.Sinto que é uma resposta ao meu pedido e agradeço que tenha pensado em mim. Vou ficar na minha janela de olhar o mundo à espera de si e da sua história.

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