quinta-feira, 20 de junho de 2013

Post.it: Temos pena


Eis uma expressão que ultimamente me anda a fazer “alergia nos neurónios” (outra expressão).
“Isto está errado!”. Resposta – Temos pena. “Estão a violar os meus direitos!” – Temos pena. “Não me dão solução!” – Temos pena. “Sou cidadã, mereço mais atenção!” – Temos pena.
Irrita, mas irrita mesmo, esta resposta que a nada responde. Vazia de conteúdo, desprovida de sentido. Que nos deixa sem acção cada vez mais “roubados” por dentro e por vezes também por fora.
Ainda por cima é uma frase que nos mente porque na verdade ninguém tem pena. Não há solidariedade por quem é atropelado por burocracias. Não há apoio moral a quem lhe sonegam os direitos conquistados por uma vida de trabalho.
Não, não têm pena, há muito que lhes cresceu uma indiferença “protectora” justificam, para não confessarem a incapacidade de sentir alguma pena/dor verdadeira por quem lhes pede um sentido quando já não vislumbram sentido algum para o seu futuro.
Há quem ainda entre no jogo e num jacto de raiva incontida responda tentando imitar o tom “penas têm as galinhas”.
Claro que a minha “pena” entende o lado de quem está no atendimento ao público, que ouve vezes sem conta as mesmas queixas, a mesma revolta, com a mesma impotência para lhe dar um  melhor desfecho.
No fundo, bem  no  fundo, apenas  precisávamos  de um sorriso, de uma  palavra conciliadora, mesmo que  depois se partisse sem  a solução mas com o peito aconchegado não por penas mas  por um  pouco do outro em nós, esse  pedacinho de  algo a que  chamamos  esperança. Não tenham  pena, sobretudo  dessas penas  que embora sejam muitas, pela sua indiferença não nos permitem voar...