sexta-feira, 7 de junho de 2013

Post.it: Não partas

Não partas antes de fazeres 8, 10, 18, 20, 30, 50 ou 80 anos. Não partas antes de chegar o verão para te ver a mergulhar nas ondas e fazer castelos de areia na praia. Não partas antes de termos as nossas primeiras discussões sobre as tuas notas escolares, sobre as tuas namoradas, sobre as noites de farra e as minhas insónias e os meus medos de que te perdesses por maus caminhos. Só queria que os chegasses a conhecer e que depois, optasses por não os seguir.
Não partas mesmo que um dia usasses as calças rasgadas nos joelhos e descaídas na cintura. Que optasses por um corte de cabelo penteado pelo vento. Que fumasses às escondidas e disfarçasses o cheiro com pastilhas elásticas. Que me rebentasses os ouvidos com o som dos Heavy metal,  tão diferente das baladas que te cantava até entrares no mundo dos sonhos.
Não partas mesmo que um dia quisesses ser gótico, amisch ou budista. Mesmo que discutíssemos sobre incompatibilidades geracionais. Mesmo que me gritasses que querias o mundo como oferta na tua mão, porque achavas que tinhas direito a tudo por teres nascido de um desejo maternal e não da tua exclusiva vontade.
Mesmo que fizesses muitas escolhas erradas, mesmo que seguisses um destino distinto de tudo o que ambicionei para ti, mesmo assim, continuaria a pedir-te, não partas. Porque se não partires, terei mais tempo para tentar fazer de ti uma pessoa feliz.
Olho para ti, e já não consigo desenhar-te um futuro mais longínquo, se não a distância que vai do teu coração ao meu.
Quando ainda queria fazer tantas coisas: ensinar-te a andar de bicicleta, a lançar papagaios de papel, a fazer truques de magia, a identificar as estrelas pelo seu desenho no céu.
Queria tanto continuar a ler-te histórias para adormeceres sem medo dos sonhos maus.
Queria mais que tudo, parar o tempo, parar a doença, parar as dores, parar a ameaça diária da tua partida.
Ainda bem que não percebes esta dor que me corrói o corpo e a alma, ainda bem que não sabes que o teu caminho é curto e que por isso não temes nada, e que continuas a sorrir nos poucos momentos bons que ainda consegues ter.
Em mim, em nós, que sentimos cada vez mais a proximidade de tua ausência, só conseguimos pedir-te que não partas, porque chegaste há tão pouco tempo, ainda mal conheces o mundo, ainda mal viveste a vida, como podes partir dela sem aumentares as tuas e as minhas, as nossas recordações?
Mas se tiveres de partir, leva a certeza de  que ficas para sempre entre nós, e que te veremos cada vez que olharmos o céu, e nele encontrarmos  a tua presença na estrela mais brilhante que nos lembrará  o teu eterno sorriso iluminando o horizonte da noite.