sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Post.it: Viver é preciso


Quando lhe perguntavam a idade sorria e respondia: – Muitos! já estou a dever anos há vida. Deparara-se com a morte algumas vezes, depois do primeiro susto, do segundo, do terceiro, passou a encará-la com naturalidade.
– Quando ela chegar cá estarei à sua espera.
Tínhamos longas conversas numa delas disse-me.
– Por vezes pensamos que já chegámos aqui, já passámos por tudo, já vimos de tudo, já chorámos o bastante e rimos outro tanto.
Podemos sentir que se passamos a viver a vida com a tranquilidade dum rio a fluir enquanto nos deixamos simplesmente ir. Mas de repente algo desperta-nos desse doce torpor e surpreendentemente sentimos que ainda temos muito mais para sofrer, para ver e sentir.
O coração que se habituara a navegar sente-se magoado, ferido na sua delicadeza. Como dói a injustiça, a incompreensão, a sensação de que se dedicámos em vão a momentos que nos pareciam bonitos, duma jovialidade luminosa.
Roubados no nosso ideal sentimos que nem que se vivamos 100 anos haveremos de compreender a complexidade humana.
Que fazer? Pergunto-lhe. – Deixar acontecer, aceitar, recolher-se e navegar porque, viver é preciso.


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